UNIMONTES 2013/1

              O instinto animal

 

[1]   Alguns traduzem por "instinto animal" o que o economista inglês John Maynard Keynes na década

de 30 descreveu como "animal spirit", isto é, espírito animal. A tradução do termo original não importa

muito, importa o que significa, e significa várias coisas: o gosto ou a capacidade pelo risco ao investir, por

exemplo, quando se fala em empresários e economia. Neste artigo tomo a expressão como nossa capacidade

[5] geral de sentir, pressentir algo, e agir conforme. Isso se refere não só a indivíduos, mas a grupos,

instituições, estados, governos. Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e

sabedoria, para que o bolo não desande.

  Não me parece muito apurado o espírito animal que, nas palavras de uma autoridade, declara que

empregar 7% do PIB em educação (e 10% em mais alguns anos) vai "quebrar o país". Educação não quebra

[10] nada: só constrói. Sendo bom esse instinto ou espírito, o fator educação terá de ser visto como o mais

importante de todos. Aquele, sólido e ótimo, sem o qual não há crescimento, não há economia saudável, não

há felicidade. Uso sem medo o termo "felicidade", pois não me refiro a uma cômoda alienação e ignorância

dos problemas, mas ao mínimo de harmonia interna pessoal, e com o mundo que nos rodeia. Não precisar

ter angústias extremas com relação ao essencial para a nossa dignidade: moradia, alimentação, saúde,

[15] trabalho. Como base para tudo isso, educação. Educação que pode consumir bem mais do que 7% do PIB

sem quebrar coisa alguma, exceto a nossa miséria nascida da ignorância; nossas escolhas erradas nascidas

da desinformação; nossa má qualidade de vida; e a falta de visão quanto àquilo que temos direito de receber

ou de conquistar, com a plena consciência que nasce da educação.

  A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação de seu povo.

[20] Pois não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela

argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que

não sabem; e que, se quiserem boa educação desde as bases na infância, correm o risco de ser acusados de

querer quebrar o país.

  Precisamos medir nossas palavras: cuidar do que dizemos, do que escrevemos, e também do que

[25] pensamos e não dizemos. Podem acusar quanto quiserem os empresários, os louros de olhos azuis, as elites,

os ricos, os intelectuais, não importa: mas não acusem de querer o mal da nação aqueles que batalham pela

mera sobrevivência ou por uma vida melhor, num orçamento que tenha a educação como prioridade. Pois

não é certo que da treva sempre nasce a luz: dela brotam como flores fatídicas o sofrimento, a miséria, a

subserviência. Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os

[30] sentidos, financeira, moral, intelectual. Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem

pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente

cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no

chamado concerto das nações, e nos torna respeitados — nos faz incluídos, consultados, procurados. Dirão

que continuo repetitiva com esse tema: sou, e serei, porque acredito nisso. Precisamos ter cuidados pelos

[35] que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e

fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente. Para que a gente possa ter esperanças

fundamentadas, emprego digno, salário compensador, morando e trabalhando num ambiente saudável,

aprendendo a administrar nossos ganhos, poucos ou abundantes. Para não estarmos entre os últimos nas

listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado.

[40]   Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa

mais fundamental realidade: simples assim.

(LUFT, Lya. O instinto animal. Revista Veja, São Paulo, p. 2, julho de 2012.)

Considere o trecho: “Educação que pode consumir bem mais do que 7% do PIB sem quebrar coisa alguma, exceto a nossa miséria nascida da ignorância; nossas escolhas erradas nascidas da desinformação; nossa má qualidade de vida; e a falta de visão quanto àquilo que temos direito de receber ou de conquistar, com a plena consciência que nasce da educação.” (Linhas 15-18)

Em relação à ocorrência do sinal indicativo de crase no termo em destaque, pode-se afirmar:

a

O termo antecedente é regido pela preposição ‘a’, e houve contração dessa preposição com o artigo feminino ‘a’. 

b

Ocorre crase nas locuções conjuntivas formadas por substantivo feminino expresso ou elíptico. 

c

Ocorre crase nas locuções prepositivas formadas por substantivo feminino expresso ou elíptico. 

d

O termo antecedente é regido pela preposição ‘a’, e houve a contração dessa preposição com a vogal ‘a’ do pronome demonstrativo ‘aquilo’.

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D
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