O iluminismo, conforme o pensador alemão Immanuel Kant, “é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade. A causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servirse de si mesmo sem a direção de outrem.”
(Kant, I. O que é ilustração. In: WEFFORT, F. C. (org.). Os clássicos da Política – vol.II. São Paulo: Ática, 2006, p.84).
A visão do filósofo apresenta uma utopia de liberdade, mas também traz um aspecto pessimista.
Assinale a alternativa correta que justifica historicamente esta ambiguidade:
O movimento iluminista contribuiu grandemente para criticar instituições sociais opressoras, contudo a Revolução Francesa igualmente espalhou o terror e a perseguição injusta.
Os pensadores iluministas, ao assumirem a direção política dos reis através do despotismo esclarecido, não reforçaram as instituições educacionais, nem a liberdade dos intelectuais contrários ao regime monárquico.
Os filósofos iluministas propuseram valores culturais bonitos para a sociedade, mas seu apoliticismo intelectual impediu que estas propostas fossem concretizadas no “Novo Regime”.
O movimento iluminista na Alemanha terminou por apoiar e legitimar a ditadura estabelecida por Bismarck.
Para resolver a questão, precisamos compreender a posição de Immanuel Kant acerca do Iluminismo e enxergar como ele define a saída do homem de sua “menoridade” por meio do uso autônomo da razão. Kant, ao mesmo tempo, propõe uma utopia de liberdade e expõe o lado sombrio que as revoluções inspiradas no pensamento iluminista poderiam ter, dada a possibilidade de a busca pela liberdade degenerar em opressão ou perseguição. Historicamente, isso se exemplifica na Revolução Francesa, que uniu ideais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, mas também desencadeou períodos de terror e perseguição política.
A alternativa correta (A) descreve justamente essa ambiguidade: o Iluminismo questionou estruturas sociais opressoras e, posteriormente, a Revolução Francesa figurou como principal revolução iluminista. No entanto, o movimento que prometia liberdade acabou, em sua fase mais radical (o Período do Terror), recorrendo a medidas violentas e autoritárias. Essa convivência entre ideais libertadores e episódios de opressão constitui a ambiguidade apontada por Kant, pois, embora o homem devesse libertar-se do jugo intelectual, também os próprios iluministas e revolucionários poderiam cair em práticas coercitivas para defender seus objetivos.