O Homem que se endereçou
Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua Treze, nº 21.
Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde a empregada colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prateleira.Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com terror, que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.
BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem com o furo na mão e outras histórias. São Paulo: Editora Ática, 1998
O conto de Ignácio Loyola reflete o comportamento do homem contemporâneo, por meio da figura mitológica de Narciso, retratando, sobretudo:
o pessimismo e a perda de sua vaidade
a excessiva vaidade e a arrogância
o medo do desconhecido e a perdada de sua identidade
o individualismo e a sua excessiva vaidade
o seu individualismo e a perda da identidade