O homem é um animal falante e mortal, dizia Aristóteles. E, como ele, muitos outros filósofos associam a humanidade do homem à condição da fala. Heidegger dizia que construímos não só nossa
5 humanidade, mas também nossa singularidade através da linguagem. Para Hannah Arendt, falar nos iguala aos outros tanto quanto nos distingue deles. Ao falar, os homens se comunicam uns com os outros, e a palavra comunicar
10 quer dizer tornar comum. Como os homens falam e agem, falar e agir estão sempre associados, à medida que as palavras dão significado aos nossos atos e, assim, mostram nossas intenções, nossos princípios e motivos e, enfim, revelam a pessoa que somos.
15 A filosofia contemporânea também revelou que a realidade não subsiste em si mesma, mas só aparece como realidade quando é percebida pela nossa consciência, e se essa consciência for compartilhada com outros.
20 Do mesmo modo, a realidade do nosso eu só é assegurada quando outros nos veem, nos ouvem, quer dizer, nos testemunham. É o testemunho dos outros que nos torna reais, e que efetiva tudo o que e como fizemos e dissemos. nário em que podiam aparecer para os outros e exibir sua excelência, ou seu virtuosismo. A febre de celebridade que toma conta do nosso 30 tempo leva as pessoas a se lançarem ávidas sobre qualquer oportunidade de exibição e reconhecimento, mesmo sem nenhuma excelência ou virtuosismo. Mas se o testemunho dos outros e os registros salvam nossa existência e a afirmação de nossa
35 singularidade da dissolução e do esquecimento, podem também dar uma persistência indelével ao que gostaríamos de manter no ocultamento. Ao garantir nossa exposição, esses registros e testemunhos também nos mantêm presas da
40 interpretação e da memória dos outros. Quanto mais idade temos, mais cresce o desejo de recolhimento e de estarmos abrigados da opinião pública. Isso não acontece com os jovens, que dependem dessa exibição como uma ponte para o mundo.
45 Talvez por isso se exponham sem pensar e sem querer, sem saber diferenciar o privado do que é público, sem ainda poder avaliar a preciosidade da intimidade e o valor inestimável da vida e da própria singularidade. A marca do testemunho é que ele torna os acontecimentos
50 irreversíveis, e o mal, sem remédio. Talvez seja por isso que, quando expostas nas redes sociais em uma intimidade primeiramente consentida e só depois compreendida, adolescentes tirem a própria vida.
CRITELLI, Dulce. Disponível em: http://www.cartaeducacao.com.br/ artigo/somos-todos-testemunhas. Acesso em: 10 fev. 2106. Adaptado.
A análise dos fragmentos retirados do texto está correta em
Nas passagens “E, como ele, muitos outros filósofos associam” (l. 2-3) e “Como os homens falam e agem, falar e agir estão sempre associados” (l. 10-11), a palavra “como” expressa ideia de conformidade nas duas situações.
A expressão “mas também” (l. 5), em relação à oração anterior, estabelece oposição.
A oração reduzida “Ao falar” (l. 8) apresenta um fato que sustenta as ideias do articulista, podendo ser desenvolvida, sem alterar o sentido de sua argumentação.
O conector “que” da passagem “que nos torna reais, e que efetiva tudo o que fizemos e dissemos.” (l. 23-24) exerce a mesma função morfossintática nas diferentes colocações.
Na passagem “leva as pessoas a se lançarem ávidas sobre qualquer oportunidade” (l. 30-31), as formas verbais “leva” e “lançarem” se apresentam com a mesma regência.