O feminismo negro não é uma luta meramente identitária, até
porque branquitude e masculinidade também são
identidades. Pensar feminismos negros é pensar projetos
democráticos. Hoje afirmo isso com muita tranquilidade, mas
[5] minha experiência de vida foi marcada pelo incômodo de uma
incompreensão fundamental. Não que eu buscasse respostas
para tudo. Na maior parte da minha infância e adolescência,
não tinha consciência de mim. Não sabia por que sentia
vergonha de levantar a mão quando a professora fazia uma
[10] pergunta já supondo que eu não saberia a resposta. Por que
eu ficava isolada na hora do recreio. Por que os meninos
diziam na minha cara que não queriam formar par com a
“neguinha” na festa junina. Eu me sentia estranha e
inadequada, e, na maioria das vezes, fazia as coisas no
[15] automático, me esforçando para não ser notada.
Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo negro?.
O trecho que melhor define a “incompreensão fundamental” (L.6) referida pela autora é:
“não que eu buscasse respostas para tudo” (L.6‐7).
“não tinha consciência de mim” (L.8).
“Por que eu ficava isolada na hora do recreio” (L.10‐11).
“me esforçando para não ser notada” (L.15).
“sentia vergonha de levantar a mão” (L.8‐9).
A questão pede para identificar qual trecho do texto melhor define a expressão "incompreensão fundamental" mencionada pela autora na linha 6.
Ao analisar o texto, percebemos que a autora introduz a "incompreensão fundamental" e, em seguida, elabora sobre o que ela consistia. Na linha 5-6, ela diz: "minha experiência de vida foi marcada pelo incômodo de uma incompreensão fundamental." Logo após essa afirmação, ela continua, explicando essa incompreensão:
"Não que eu buscasse respostas para tudo. Na maior parte da minha infância e adolescência, não tinha consciência de mim. Não sabia por que sentia vergonha de levantar a mão quando a professora fazia uma pergunta já supondo que eu não saberia a resposta. Por que eu ficava isolada na hora do recreio. Por que os meninos diziam na minha cara que não queriam formar par com a “neguinha” na festa junina."
A frase "não tinha consciência de mim" (linha 8) é a explicação direta e central da "incompreensão fundamental". Ela não entendia as situações ao seu redor porque, fundamentalmente, não se compreendia, não tinha clareza sobre sua própria identidade e o impacto das dinâmicas sociais, como o racismo e o machismo, em sua vida.
As demais situações descritas ("sentia vergonha de levantar a mão", "ficava isolada na hora do recreio", "os meninos diziam [...] que não queriam formar par com a 'neguinha'") são exemplos e consequências dessa falta de consciência de si, ou seja, manifestações da "incompreensão fundamental", mas não a definição da incompreensão em si.
Portanto, o trecho que melhor define a "incompreensão fundamental" é aquele que aponta para essa ausência de autoconhecimento e autopercepção.
A alternativa correta é a B.
Esta questão avalia a capacidade de interpretação textual, especificamente a habilidade de identificar a definição ou explicação de um termo ou conceito dentro de um contexto. Muitas vezes, autores introduzem uma ideia e, nas frases seguintes, a explicitam ou aprofundam.
É crucial ler atentamente o entorno da expressão-chave ("incompreensão fundamental") para entender como o autor a desenvolve. Distinguir a definição principal de exemplos, consequências ou elaborações secundárias é fundamental para responder corretamente.
Contexto Semântico: A compreensão de uma palavra ou expressão depende fortemente do contexto em que está inserida. Isolar uma frase pode levar a interpretações equivocadas. É preciso analisar as relações entre as frases e parágrafos para captar o sentido pretendido pelo autor.