UNISC Medicina 2014/2

O feminino e o feminismo

 

O feminismo atual questiona precisamente a forma tradicional de desempenho do

papel de esposa e mãe. Não se trata mais de conquistar direitos formais mas de mudar a

forma de relacionamento entre homens e mulheres, em primeiro lugar na família, mas

também no trabalho e na política. As feministas, de um modo geral, não aceitam a divisão

tradicional de trabalho entre sexos, pela qual cabem à mulher todas as tarefas domésticas,

deixando ao homem o relacionamento com o mundo externo ao lar. O fato de a mulher ser

mãe não justifica que ela assuma todos os encargos da procriação, o que acarreta sua

dependência do homem, que passa a ser o único a “trazer dinheiro para casa”. É esta

dependência que forma a base da subordinação da mulher, no plano econômico em primeiro

lugar e nos demais planos em consequência.

Quando a mulher também realiza trabalho remunerado, isso, em geral, não constitui

motivo para que ela deixe de desempenhar suas funções domésticas, acarretando-lhe o

“duplo encargo” de cuidar da produção de mercadorias (na empresa) e da reprodução da

força de trabalho (no domicílio). Daí a assalariada com encargos de família sentir-se

duplamente explorada: pelo patrão e pelo marido. A discriminação salarial contra a mulher

tem a mesma base: sendo considerada uma trabalhadora “complementar” (ao seu pai ou

marido), ela é socialmente coagida a aceitar pagamento inferior por um trabalho que, por

isso mesmo, é rapidamente abandonado pelos homens, que almejam (e geralmente obtêm)

ganhos mais altos.

Embora se proponha objetivos concretos, o feminismo atual apresenta menos um

programa definido de reivindicações do que uma visão renovada do que poderia e talvez

deveria ser uma sociedade na qual indivíduos de ambos os sexos pudessem conviver em

condições de igualdade. Assim, Betty Mindlin Lafer se pergunta: “o que aconteceria se

homens e mulheres dividissem igualmente todas as tarefas, ambos dedicando a metade do

dia a filhos e casa e a outra metade ao trabalho?” É claro que toda a sociedade teria que se

reorganizar para que isso fosse possível; hoje, em muito poucos empregos as pessoas podem

limitar o número de horas trabalhadas. E para que os homens pudessem encurtar o dia de

trabalho fora de casa, seria preciso que as mulheres estivessem mais preparadas para os

mesmos empregos, recebessem mais instruções e facilidades para se cultivar. Então homem

e mulher teriam a vantagem de ter a visão do outro, de repartir a responsabilidade econômica

e o serviço doméstico, tendo os dois o prazer de estar com as crianças.

O que aconteceria se houvesse alternativas à vida em família, e que outras formas de

viver se poderiam imaginar: comunidades, cuidado coletivo de crianças, mais escolas ou

creches, cooperativas para o trabalho doméstico...? Qual a educação ideal para meninos e

meninas, já que a mulher é, de certa forma, quem transmite os conceitos de masculino e

feminino e, sem querer, pode perpetuar justamente o que deseja evitar?

Estas indagações revelam uma faceta do feminismo atual, que ele compartilha com

outros movimentos de libertação, como os de negros e homossexuais. Trata-se, antes mesmo

de tentar mudar as relações sociais objetivas, de encontrar uma nova identidade para a

mulher. Para que a mulher possa se libertar da sujeição que o comportamento dos outros —

os homens — lhe impõe, é preciso que ela mesma se liberte antes dos valores, atitudes e

preconceitos que desde criança lhe foram introjetados. O movimento feminista começa,

portanto, sua ação junto às próprias mulheres, propondo-lhes uma outra visão de si mesmas,

que supere os sentimentos de autodepreciação, que uma eventual recusa aos papéis

“femininos” não deixa de acarretar.

SINGER, Paul. O feminino e o feminismo. In: SINGER, P. e BRANT, V (orgs). São Paulo: o povo em movimento, Vozes/CEBRAP, 1983.

Segundo o texto, o feminismo contemporâneo

I - está imbuído de garantir direitos que se circunscrevem no âmbito dos aspectos formais.
II - defende uma mudança na forma como se estabelecem as relações entre homens e mulheres.
III - vê a divisão do trabalho como uma situação de fundo, embora não assuma essa polêmica como uma questão determinante de sua militância.

Assinale a alternativa correta.

a

Somente a afirmativa I está correta.

b

Somente a afirmativa II está correta.

c

Somente a afirmativa III está correta.

d

Somente as afirmativas I e II estão corretas.

e

Somente as afirmativas II e III estão corretas.

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B
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