O DIÁRIO DE JONATHAN HARKER
(Notas taquigráficas)
3 de maio, Bistritz. Parti de Munique às 20 h 35 da noite, chegando a Viena na manhã seguinte. A chegada estava prevista para as 6 h 45 da manhã. O nosso trem, porém, se atrasara em uma hora. Pelo que pude apreciar ainda do trem, através do clarão de suas luzes, e de uma breve caminhada pelas ruas, Budapeste pareceu-me uma cidade realmente maravilhosa. Não obstante, limitei-me a uma rápida excursão em torno da estação ferroviária, pois, em virtude do atraso, devíamos partir o mais cedo possível. Tive então a impressão de que o Ocidente ficara para trás e que agora entrávamos no Oriente. A mais ocidental das portentosas pontes que cruzam o Danúbio, cujo leito aqui nos impressiona por sua amplitude e profundidade, põe-nos inopinadamente em contato com as tradições do mundo turco. [...]
Dispondo de algum tempo livre durante minha permanência em Londres ali frequentei o Museu Britânico, consultando livros e mapas geográficos na biblioteca, a fim de recolher dados sobre a Transilvânia. [...]
STOKER, Bram. Drácula. Trad. Theobaldo de Souza. – Porto Alegre: L&PM, 2011. p. 7.
O texto é o trecho inicial de Drácula, romance publicado por Bram Stoker em 1897. Seguindo o modelo estabelecido por esse início, a obra é composta por cartas, relatórios e recortes de jornal. O leitor, acompanhando a sequência dos relatos, estabelece sua compreensão e o fio narrativo da história. Tendo essas informações e particularidades como referência, Drácula pode ser lido como exemplo da
variedade discursiva do gênero conto, por meio do qual o autor narra uma história de curta extensão, ainda que verdadeira.
escrita evasiva que muitos escritores europeus praticaram à época da II Grande Guerra, o que os fazia elaborar histórias fantasiosas.
plasticidade estrutural do romance, que pode encenar diversas camadas discursivas e fazer uso de vários tipos e gêneros de texto.
dificuldade de percepção dos objetivos do escritor, que busca fazer passar por autêntico um conjunto de cartas que ele próprio escreveu.
flexibilidade formal do texto literário, que permite narrar fatos verídicos em uma linguagem orientada por recursos estilísticos do idioma.