Atenção: Leia o trecho inicial da crônica “Histórias de Zig”, de Rubem Braga, para responder às questões de números 1 a 9.
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Um dia, antes do remate de meus dias, ainda jogarei fora esta máquina de escrever e, pegando uma velha pena de pato, me porei a narrar a crônica dos Braga. Terei então de abrir todo um livro e contar as façanhas de um deles que durou apenas onze anos, e se chamava Zig.
Zig – ora direis – não parece nome de gente, mas de cachorro. E direis muito bem, porque Zig era cachorro mesmo. Se em todo o Cachoeiro era conhecido por Zig Braga, isso apenas mostra como se identificou com o espírito da Casa em que nasceu, viveu, mordeu, latiu, abanou o rabo e morreu.
Teve, no seu canto de varanda, alguns predecessores ilustres, dos quais só recordo Sizino, cujos latidos atravessam minha infância, e o ignóbil Valente, que encheu de desgosto meu tio Trajano. Não sei onde Valente ganhou esse belo nome; deve ter sido literatura de algum Braga, pois hei de confessar que só o vi valente no comer angu. E só aceitava angu pelas mãos de minha mãe.
Um dia, tio Trajano veio do sítio... Minto! Foi tio Maneco. Tio Maneco veio do sítio e, conversando com meu pai na varanda, não tirava o olho do cachorro. Falou-se da safra, das dificuldades da lavoura.
– Ó Chico, esse cachorro é veadeiro.
Meu pai achava que não; mas, para encurtar conversa, quando tio Maneco montou sua besta, levou o Valente atrás de si com a coleira presa a uma cordinha. O sítio não tinha três léguas lá de casa. Dias depois meu tio levou a cachorrada para o mato, e Valente no meio. Não sei se matou alguma coisa; sei apenas que Valente sumiu. Foi a história que tio Maneco contou indignado a primeira vez que voltou no Cachoeiro; o cachorro não aparecera em parte alguma, devia ter morrido...
– Sem-vergonhão!
Acabara de ver o Valente que, deitado na varanda, ouvia a conversa e o mirava com um olho só.
Nesse ponto, e só nele, era Valente um bom Braga, que de seu natural não é povo caçador; menos eu, que ando por este mundo a caçar ventos e melancolias.
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(Rubem Braga. 50 crônicas escolhidas. São Paulo: Global Editora, 2021)
O cronista expressa uma retificação no seguinte trecho:
O sítio não tinha três léguas lá de casa. (6o parágrafo)
Acabara de ver o Valente que, deitado na varanda, ouvia a conversa e o mirava com um olho só. (8o parágrafo)
E só aceitava angu pelas mãos de minha mãe. (3o parágrafo)
Um dia, tio Trajano veio do sítio... Minto! Foi tio Maneco. (4o parágrafo)
Tio Maneco veio do sítio e, conversando com meu pai na varanda, não tirava o olho do cachorro. (4o parágrafo)
Para identificar a retificação no texto, o estudante deve buscar por palavras ou expressões que indiquem uma correção pelo autor. No caso da crônica de Rubem Braga, a expressão 'Minto!' é um claro indicativo de que o autor está corrigindo uma informação previamente mencionada.
Procure por palavras no texto que são comumente usadas para indicar uma correção ou esclarecimento por parte do autor.
Fique atento a expressões que interrompem o fluxo natural da narrativa, indicando uma mudança ou ajuste no que foi dito.
Leia o texto com atenção, não se apresse na leitura para não perder detalhes importantes.
Um erro comum é o estudante se apressar na leitura e escolher uma opção que parece correta à primeira vista, sem identificar as pistas lingüísticas que indicam uma retificação.
Na análise de texto, especialmente em crônicas, é importante prestar atenção a palavras ou expressões que indicam correções, mudanças de ideia ou esclarecimentos do autor. Esses elementos são frequentemente utilizados para criar um efeito de conversa ou reflexão no texto.