Texto para os itens de 1 a 16.
1 No dia 30 de outubro de 1938, marcianos
aterrissaram na cidade de Grover’s Mill, no estado norte-
americano de Nova Jersey, e se espalharam, tentando
4ocupar os arredores; encontraram forte resistência dos
terráqueos; o pânico foi generalizado em várias cidades.
A invasão, como é fácil imaginar, nunca existiu. O
7 pânico coletivo, todavia, foi bem real, após a rede de rádio
CBS (Columbia Broadcasting System) ter interrompido sua
programação musical para noticiar em primeira mão que
10naves espaciais haviam desembarcado guerreiros
alienígenas na costa leste dos Estados Unidos. Na
verdade, era uma encenação radiofônica concebida e
13dirigida pelo então jovem e desconhecido Orson Welles,
que adaptara um texto de ficção científica do inglês H. G.
Wells.
16 Embora, ao início da transmissão, os ouvintes
tivessem sido alertados de que se tratava de uma peça
ficcional, não adiantou muito. Segundo cálculo da CBS,
19cerca de seis milhões de pessoas sintonizaram o
programa. Uma parte relevante dessa assistência
acreditou tratar-se de um fato real; houve sobrecarga nas
22linhas telefônicas, engarrafamentos nas ruas, pessoas
tentavam fugir a todo custo do perigo marciano. No dia
seguinte, um jornal resumiu tudo com a seguinte
25manchete: “Guerra falsa no rádio espalha terror pelos
Estados Unidos”. O caso tornou-se um marco na
compreensão do poder dos meios de comunicação de
28massa e deixou à reflexão uma pergunta crucial: como
milhões de pessoas puderam acreditar numa patacoada
desse tipo?
31 Dois anos mais tarde, resenhando um livro que
trazia o dossiê completo daquele evento, com a narrativa
detalhada dos fatos, depoimentos e o texto transmitido, o
34escritor George Orwell se pôs tal pergunta. A conclusão
a que ele chegou é tão instigante quanto terrível. Afora a
abertura e o fechamento, a encenação na CBS foi
37inteiramente apresentada sob a forma de boletins
noticiosos e mencionava como fontes de suas informações
estações de rádio reais. Muitas pessoas aparentemente se
40deixaram enlear pela ficção graças à combinação de duas
crenças: primeiro, a peça era um boletim de notícias;
segundo, todo boletim de notícias pode ser considerado
43verídico.
A conclusão é que, por vezes, um enunciado se
passa por “verdade” menos em razão de seu conteúdo do
46que pela forma de sua enunciação. Uma notícia qualquer
provinda de uma rádio fidedigna, por exemplo, merece
confiança simplesmente por ter a forma de uma notícia,
49isto é, faz as vezes de verdade porque está envolvida num
figurino verossimilhante, seja o conteúdo verdadeiro, seja
uma divertida ficção, seja enfim... uma mentira deslavada.
Homero Santiago. Cuidado com as notícias!
In: Humanitas, ano 16, ed. 149, 2022, p. 82 (com adaptações).
Considerando as ideias e as propriedades linguísticas do texto apresentado, julgue os itens de 1 a 10.
O autor julga absurda a ideia de uma invasão alienígena.
Certo
Errado