Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de
canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios
Manuel de Barros
De acordo com a poesia de Manuel de Barros, pode-se inferir que
apesar de o poeta utilizar-se das palavras, ele não gosta delas.
busca ressignificar a palavra dentre os mais distintos contextos.
a palavra não consegue dá originalidade às coisas.
o atraso do poeta diz respeito à apreciação por coisas desimportantes.
o termo invencionática é um neologismo que o autor criou para mostrar a dificuldade que tem de utilizar as palavras.