O AMOR COMEU MEU NOME
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita.
O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas.
O amor comeu metros e metros de gravatas.
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. [...]
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. [...]
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
MELO NETO, J. C. Disponível em: <https://www.culturagenial.com/maiores-poemas-de-amor-literatura-brasileira/>. Acesso em: 04 out. 2018.
A principal figura de linguagem utilizada na construção do poema de João Cabral de Melo Neto reproduzido, em parte, no TEXTO é