Numa prova de português do Ensino Fundamental, ante a pergunta sobre qual era a função do apóstrofo, um aluno respondeu: “Apóstrofos são os amigos de Jesus, que se juntaram naquela jantinha que o Leonardo fotografou”.
A frase, além de alertar sobre os avanços que precisamos na excelência da educação, é didática quanto aos cuidados no uso da Língua Portuguesa, preciosidade que herdamos dos lusos, do galego e do latim.
Por falar em vírgula lembrei-me de caso ocorrido numa cidade paulista. O vereador proponente lia seu “improviso” na cerimônia de outorga do título de cidadania a um professor de português. A iniciativa deveu-se ao fato de o mestre ter alfabetizado o nobre edil e outros munícipes no curso de adultos. O exaltado orador disparou: “Este grande letrista me transformou num competente palavrista, pontuador e virgopalense”.
O constrangido catedrático, ao discursar, agradeceu, mas recusou a homenagem. “Não a mereço”, frisou! Em tempo: virgopalense é o gentílico do município de Virgem da Lapa, localizado no Vale do Jequitinhonha (MG).
Ao não dar explicações sobre o óbvio, o velho membro do magistério evitou a redundância, esse vício que polui o idioma, como ilustra o ato de assinatura de convênio para projeto de piscicultura numa cidade do interior gaúcho: “Vamos vender nossos peixes em todos os países da Terra”, bradou o prefeito, num arroubo de entusiasmo. “Questão de ordem, Excelência, mas só nos da Terra? Por que não também nos países de Marte, Vênus e até Saturno?” – ironizou o líder da oposição na Câmara Municipal.
O poder da vírgula e o das palavras é tão importante que, no passado, o artifício do veto à pontuação foi usado para mudar o teor das leis contra os interesses da sociedade.
(Adaptado de: SILVA, J. G. O poder da vírgula. Folha de São Paulo, A2 Opinião, 2 set. 2012.)
Ao ser questionado sobre a função do apóstrofo, o aluno
ignorou que duas palavras, embora semelhantes quanto à disposição da sílaba tônica, podem não ser sinônimas.
observou que palavras sinônimas tanto podem ser homônimas (iguais na grafia) como parônimas (parecidas na pronúncia, com significados diferentes).
atribuiu o mesmo significado a duas palavras semelhantes quanto à sonoridade, mas diferentes quanto ao número de sílabas.
confundiu os doze apóstolos com os quatro evangelistas do Novo Testamento.
demonstrou desconhecer o nome do sinal gráfico (diacrítico) que serve para indicar a supressão de letra(s) e som(ns) numa palavra.