UERJ 2017/2

Nosso pensamento, como toda entidade viva, nasce para se vestir de fronteiras. Essa invenção  

é uma espécie de vício de arquitetura, pois não há infinito sem linha do horizonte. A verdade é  

que a vida tem fome de fronteiras. Porque essas fronteiras da natureza não servem apenas para  

fechar. Todas as membranas orgânicas são entidades vivas e permeáveis. São fronteiras feitas  

[5] para, ao mesmo tempo, delimitar e negociar: o “dentro” e o “fora” trocam-se por turnos.  

Um dos casos mais notáveis na construção de fronteiras acontece no mundo das aves. É o caso  

do nosso tucano, o tucano africano, que fabrica o ninho a partir do oco de uma árvore. Nesse  

vão, a fêmea se empareda literalmente, erguendo, ela e o macho, um tapume de barro. Essa  

parede tem apenas um pequeno orifício, ele é a única janela aberta sobre o mundo. Naquele  

[10] cárcere escuro, a fêmea arranca as próprias penas para preparar o ninho das futuras crias. Se  

quisesse desistir da empreitada, ela morreria, sem possibilidade de voar. Mesmo neste caso de  

consentida clausura, a divisória foi inventada para ser negada. 

Mas o que aqueles pássaros construíram não foi uma parede: foi um buraco. Erguemos paredes  

inteiras como se fôssemos tucanos cegos. De um e do outro lado há sempre algo que morre,  

[15] truncado do seu lado gêmeo. Aprendemos a demarcarmo-nos do Outro e do Estranho como  

se fossem ameaças à nossa integridade. Temos medo da mudança, medo da desordem,  

medo da complexidade. Precisamos de modelos para entender o universo (que é, afinal, um  

pluriverso ou um multiverso), que foi construído em permanente mudança, no meio do caos e  

do imprevisível. 

[20] A própria palavra “fronteira” nasceu como um conceito militar, era o modo como se designava a  

frente de batalha. Nesse mesmo berço aconteceu um fato curioso: um oficial do exército francês  

inventou um código de gravação de mensagens em alto-relevo. Esse código servia para que,  

nas noites de combate, os soldados pudessem se comunicar em silêncio e no escuro. Foi a partir  

desse código que se inventou o sistema de leitura Braille. No mesmo lugar em que nasceu a  

[25] palavra “fronteira” sucedeu um episódio que negava o sentido limitador da palavra. 

A fronteira concebida como vedação estanque tem a ver com o modo como pensamos e vivemos  

a nossa própria identidade. Somos um pouco como a tucana que se despluma dentro do escuro:  

temos a ilusão de que a nossa proteção vem da espessura da parede. Mas seriam as asas e a  

capacidade de voar que nos devolveriam a segurança de ter o mundo inteiro como a nossa casa. 

MIA COUTO Adaptado de fronteiras.com, 10/08/2014.

Precisamos de modelos para entender o universo (que é, afinal, um pluriverso ou um multiverso), (l. 17-18)

Nesse trecho, o conteúdo entre parênteses propõe uma reformulação da palavra universo, em função da argumentação feita pelo autor.

Essa reformulação explora o seguinte recurso:

a

contraste de morfemas de sentidos distintos 

b

citação de neologismos de valor polissêmico 

c

comparação de conceitos relacionados ao tema 

d

enumeração de sinônimos possíveis no contexto

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A
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