ENEM 2021 segunda aplicação

    Nos romances clássicos do século XIX, sobretudo de Balzac ou Jane Austen, a equivalência entre capital e rendimento anual, por intermédio de uma taxa de rendimento de 5% (ou, mais raramente, de 4%), era uma evidência absoluta. Por esse motivo, com frequência os escritores omitiam a natureza do capital e se contentavam em indicar apenas o montante  da renda anual produzida. Informavam-nos, por exemplo, que um personagem dispunha de 50 000 francos ou de 2 000 libras esterlinas de renda, sem precisar se eram rendimentos da terra ou de juros sobre a dívida pública. Pouco importava, já que a renda era segura e sistemática nos dois casos, permitindo reproduzir, ao longo do tempo, uma estratificação social conhecida.

PIKETTY, T. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014 (adaptado).

 

A equivalência destacada nas obras desses romancistas remete aos seguintes aspectos da dinâmica europeia naquele período:

a

Conflito de classes e movimentos migratórios.

b

Cultura individualista e ampliação do consumo.

c

Desenvolvimento científico e expansão urbana.

d

Modernização produtiva e desconcentração fundiária.

e

Monetarização das trocas e financiamento do Estado.

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Resposta
E
Tempo médio
1 min

Resolução

A questão pede para identificar quais aspectos da dinâmica europeia do século XIX são refletidos pela "equivalência" mencionada no texto, que se refere à prática de romancistas como Balzac e Jane Austen de indicar a riqueza de um personagem pela sua renda anual, assumindo uma taxa de rendimento estável (4% ou 5%) sobre o capital.

1. Interpretação do Texto: O texto de Thomas Piketty explica que, no século XIX, havia uma relação tão estável e conhecida entre o capital (seja terra ou ativos financeiros como títulos da dívida pública) e a renda anual gerada por ele (cerca de 4-5%), que os autores podiam simplesmente mencionar a renda (ex: 50.000 francos anuais) para indicar o nível de riqueza e a posição social do personagem. Isso funcionava porque essa renda era "segura e sistemática", permitindo a "reprodução" da estratificação social.

2. Análise da Equivalência: Essa equivalência implica duas coisas importantes sobre a economia da época:

  • Monetarização: A riqueza e o status social eram frequentemente expressos em termos monetários (renda anual em francos ou libras), indicando que as trocas econômicas e a avaliação de valor eram predominantemente monetárias. O capital (terra, títulos) era valorizado pela sua capacidade de gerar um fluxo de dinheiro.
  • Importância do Financiamento do Estado: O texto menciona explicitamente que a renda poderia vir de "juros sobre a dívida pública". Isso significa que o Estado se financiava emitindo títulos, e os detentores desses títulos (capitalistas) recebiam juros regulares. A segurança e sistematicidade dessa renda, comparável à renda da terra, mostra a importância e a estabilidade percebida desse mecanismo financeiro ligado ao Estado.

3. Avaliação das Alternativas:

  • A (Incorreta): Embora houvesse conflitos de classe, o texto foca na estabilidade e reprodução da estrutura social através da renda fixa, não no conflito em si. Movimentos migratórios não são mencionados.
  • B (Incorreta): O texto não aborda diretamente a cultura individualista ou o consumo, mas sim a estrutura econômica que sustenta a estratificação social.
  • C (Incorreta): Desenvolvimento científico e expansão urbana são características do período, mas não são diretamente ligadas à equivalência específica entre capital e renda descrita.
  • D (Incorreta): O texto menciona renda da terra, mas também de dívida pública. Não há indicação de desconcentração fundiária; a estabilidade da renda sugere a manutenção das estruturas existentes. A modernização produtiva (industrialização) não é o foco central da equivalência descrita.
  • E (Correta): A prática descrita reflete diretamente a monetarização das trocas (renda expressa em dinheiro) e a importância do financiamento do Estado (renda vinda de juros da dívida pública como fonte segura e comparável à renda da terra). Esses dois aspectos são centrais para entender como o capital gerava renda e definia status social no período, conforme descrito no texto.

Conclusão: A equivalência entre capital e renda anual, com taxas de retorno estáveis e fontes como a dívida pública, aponta para uma economia cada vez mais monetarizada e para o papel significativo do financiamento estatal através de títulos como um mecanismo de investimento seguro e de reprodução social para as classes detentoras de capital.

Dicas

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Preste atenção às duas fontes de renda mencionadas no texto: terra e dívida pública.
Considere o que significa expressar a riqueza de alguém em termos de renda monetária anual (francos, libras).
Pense sobre o que a existência de uma renda segura e sistemática vinda de "juros sobre a dívida pública" revela sobre a economia e o papel do Estado.

Erros Comuns

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Focar apenas na "renda da terra" e escolher a alternativa D, ignorando a menção igualmente importante aos "juros sobre a dívida pública".
Associar o século XIX apenas à Revolução Industrial e conflitos de classe (alternativa A ou D) sem conectar ao mecanismo financeiro específico descrito no texto.
Não compreender o significado de "juros sobre a dívida pública" e seu papel no financiamento do Estado e na geração de renda para capitalistas.
Interpretar "equivalência" de forma superficial, sem pensar nas condições econômicas (monetarização, sistema financeiro) que a tornavam possível.
Confundir a estabilidade da renda mencionada com ausência de mudanças sociais, quando na verdade ela reforçava uma estrutura social específica.
Revisão

Revisão de Conceitos

  • Capital: Conjunto de bens (terra, imóveis, dinheiro, títulos financeiros) capazes de gerar renda.
  • Renda (Rendimento): Fluxo de dinheiro recebido periodicamente a partir do capital (aluguéis, juros, lucros).
  • Taxa de Rendimento/Juros: Percentual do capital que é pago como renda em um determinado período (geralmente anual). No texto, 4-5%.
  • Dívida Pública: Títulos emitidos pelo governo para financiar suas atividades. Quem compra esses títulos (credores) recebe juros.
  • Monetarização: Processo pelo qual as trocas econômicas e a avaliação de riqueza passam a ser predominantemente realizadas através da moeda.
  • Estratificação Social: Divisão da sociedade em camadas ou classes, com base em critérios como riqueza, poder e prestígio. O texto mostra como a renda do capital ajudava a manter essa estrutura.
31%
Taxa de acerto
5.5
Média de pontos TRI
Habilidade

Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.

Porcentagem de alternativa escolhida por nota TRI
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