ENEM 2011
Nós adoraríamos dizer que somos perfeitos. Que somos infalíveis. Que não cometemos nem mesmo o menor deslize. E só não falamos isso por um pequeno detalhe: seria uma mentira. Aliás, em vez de usar a palavra “mentira”, como acabamos de fazer, poderíamos optar por um eufemismo. “Meia-verdade”, por exemplo, seria um termo muito menos agressivo. Mas nós não usamos esta palavra simplesmente porque não acreditamos que exista uma “Meia-verdade”. Para o Conar, Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, existem a verdade e a mentira. Existem a honestidade e a desonestidade. Absolutamente nada no meio. O Conar nasceu há 29 anos (viu só? não arredondamos para 30) com a missão de zelar pela ética na publicidade. Não fazemos isso porque somos bonzinhos (gostaríamos de dizer isso, mas, mais uma vez, seria mentira). Fazemos isso porque é a única forma da propaganda ter o máximo de credibilidade. E, cá entre nós, para que serviria a propaganda se o consumidor não acreditasse nela?
Qualquer pessoa que se sinta enganada por uma peça publicitária pode fazer uma reclamação ao Conar. Ele analisa cuidadosamente todas as denúncias e, quando é o caso, aplica a punição.
Anúncio veiculado na Revista Veja. São Paulo: Abril. Ed. 2120, ano 42, n.o 27, 8 jul. 2009.
Considerando autoria e a seleção lexical desse texto, bem como os argumentos nele mobilizados, constata-se que o objetivo do autor é
informar os consumidores em geral sobre a atuação do Conar.
conscientizar publicitários do compromisso ético ao elaborar suas peças publicitárias.
alertar chefes de família, para que eles fiscalizem o conteúdo das propagandas veiculadas pela mídia.
chamar a atenção de empresários e anunciantes em geral para suas responsabilidades ao contratarem publicitários sem ética.
chamar a atenção de empresas para os efeitos nocivos que elas podem causar à sociedade, se compactuarem com propagandas enganosas.
Resolução
Para resolver esta questão, precisamos identificar o objetivo principal do texto, que é um anúncio do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), veiculado na revista Veja. Vamos analisar os elementos fornecidos:
- Imagem: A imagem apresenta o logo do Conar e a frase "O Conar existe para coibir os exageros na propaganda." seguida da frase "E ele é 100% eficiente nesta missão." riscada. Isso sugere, de forma criativa, a honestidade do Conar ao admitir que não é perfeito, alinhando-se ao tom do texto principal. Abaixo, lê-se "Propaganda boa é propaganda responsável.", reforçando o pilar ético.
- Texto Principal (Primeiro Fragmento): O texto adota um tom de sinceridade, admitindo não ser perfeito ("seria uma mentira"). Explica a função do Conar ("zelar pela ética na publicidade") e sua crença na verdade absoluta em oposição a "meias-verdades". Justifica sua existência pela necessidade de credibilidade na propaganda, perguntando retoricamente: "para que serviria a propaganda se o consumidor não acreditasse nela?". A autoria é do próprio Conar, falando sobre si mesmo.
- Texto Principal (Segundo Fragmento): Este trecho é crucial, pois informa diretamente ao leitor: "Qualquer pessoa que se sinta enganada por uma peça publicitária pode fazer uma reclamação ao Conar". Descreve o processo de análise e punição.
- Análise do Comando: A questão pede o objetivo do autor (Conar) considerando a autoria, a seleção lexical (palavras como "verdade", "mentira", "honestidade", "ética", "credibilidade") e os argumentos (admissão de imperfeição, explicação da missão, processo de reclamação).
- Avaliação das Alternativas:
- A alternativa A afirma que o objetivo é "informar os consumidores em geral sobre a atuação do Conar". Isso condiz perfeitamente com o conteúdo do texto, que explica o que é o Conar, por que ele existe, seus valores e, fundamentalmente, como o consumidor pode acioná-lo em caso de se sentir lesado por uma propaganda.
- A alternativa B foca nos publicitários. Embora o Conar busque a ética na publicidade, este texto específico, publicado numa revista de grande circulação como a Veja, parece direcionado ao público consumidor, explicando o papel do Conar e como ele protege o consumidor.
- A alternativa C restringe o público a "chefes de família" e sugere uma fiscalização direta por eles, o que não é mencionado. O texto fala em "qualquer pessoa" e direciona a reclamação ao Conar.
- A alternativa D foca em empresários e anunciantes, alertando sobre a contratação de publicitários. O texto não aborda diretamente essa relação contratual.
- A alternativa E foca nos efeitos nocivos das empresas, o que é uma consequência da propaganda enganosa, mas o texto se concentra mais em apresentar o Conar e seu mecanismo de atuação para o consumidor.
- Conclusão: O texto, em sua totalidade (imagem e partes escritas), funciona como uma peça de comunicação institucional do Conar voltada ao grande público. Ele se apresenta, justifica sua existência pela necessidade de credibilidade e informa como o consumidor pode recorrer a ele. Portanto, o objetivo principal é informar os consumidores sobre sua atuação.
Dicas
Erros Comuns
Para resolver esta questão, é importante dominar os seguintes conceitos:
- Interpretação de Texto: Capacidade de compreender o sentido global e as partes de um texto, identificando informações explícitas e implícitas.
- Identificação do Objetivo do Texto (Intenção Comunicativa): Habilidade de reconhecer a finalidade principal de um texto (informar, persuadir, entreter, instruir, etc.), analisando elementos como o gênero textual, o autor, o público-alvo, a linguagem e os argumentos utilizados.
- Gênero Textual Publicitário/Institucional: Compreensão das características de textos publicitários, que visam promover uma ideia, marca, produto ou serviço. Neste caso, é um anúncio institucional, que promove a própria organização (Conar).
- Análise de Argumentação: Capacidade de identificar as teses e os argumentos usados pelo autor para sustentar seu ponto de vista e atingir seu objetivo. No texto, o Conar usa a honestidade e a explicação de sua função como argumentos.
- Função da Linguagem: Reconhecer as funções predominantes no texto. Aqui, destaca-se a função referencial ou informativa (ao explicar o Conar e seu funcionamento) e, secundariamente, a função apelativa ou conativa (ao se dirigir ao consumidor e, implicitamente, buscar fortalecer sua imagem).
Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
