Polícia Militar do Sergipe 2018

Texto I


A Rua

(Fragmento)


EU AMO A RUA. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres[...], mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua.

(...) a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma! (...) a rua é a agasalhadora da miséria. Os desgraçados não se sentem de todo sem o auxílio dos deuses enquanto diante dos seus olhos uma rua abre para outra rua (...).

A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento. Cada casa que se ergue é feita do esforço exaustivo de muitos seres, e haveis de ter visto pedreiros e canteiros, ao erguer as pedras para as frontarias, cantarem, cobertos de suor, uma melopeia tão triste que pelo ar parece um arquejante soluço. A rua sente nos nervos essa miséria da criação, e por isso é a mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas. (...) A rua é a eterna imagem da ingenuidade. Comete crimes, desvaria à noite, treme com a febre dos delírios, para ela como para as crianças a aurora é sempre formosa, para ela não há o despertar triste, e quando o sol desponta e ela abre os olhos esquecida das próprias ações, é (...) tão modesta, tão lavada, tão risonha, que parece papaguear com o céu e com os anjos...

A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou um tipo universal, tipo que vive em cada aspecto urbano, em cada detalhe, em cada praça, tipo diabólico que tem, dos gnomos e dos silfos das forestas, tipo proteiforme, feito de risos e de lágrimas, de patifarias e de crimes irresponsáveis, de abandono e de inédita flosofa, tipo esquisito e ambíguo com saltos de felino e risos de navalha, o prodígio de uma criança mais sabida e cética que os velhos de setenta invernos, mas cuja ingenuidade é perpétua, voz que dá o apelido fatal aos potentados e nunca teve preocupações, criatura que pede como se fosse natural pedir, aclama sem interesse, e pode rir, francamente, depois de ter conhecido todos os males da cidade, poeira d’oiro que se faz lama e torna a ser poeira – a rua criou o garoto!


RIO, João do. A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, pp. 28–31.


Vocabulário

Agremia: do verbo agremiar; juntar num mesmo grupo.

Canteiros: pedreiros responsáveis pelas construções com pedra.

Frontarias: fachada principal; frente.

Melopeia: melodia; canção melodiosa.

Silfos: seres mágicos do ar presente em mitologias europeias.

Proteiforme: que muda de forma frequentemente.

Potentados: majestades; maiorais; pessoas de grande poder.

No último parágrafo do texto, o autor emprega uma estratégia discursiva para a apresentação de uma ideia. Tal estratégia pode ser entendida como:

a

indicação de questionamentos acerca da ideia que seria confrontada, ao final do texto, com um outro posicionamento

b

antecipação de posicionamentos distintos sobre a ideia que fora apresentada em todos os demais parágrafos do texto.

c

representação objetiva de uma ideia que, antecipada no parágrafo anterior, seria reiterada por meio de elementos concretos.

d

suspensão de ideia que seria explicitada ao final, antecipada por meio de expressões que a caracterizam.

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D
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