No século XI, o bispo Adalberon de Laon escreveu:
“A lei humana impõe duas condições: o nobre e o servo não estão submetidos ao mesmo regime. Os guerreiros são protetores das igrejas. Eles defendem os poderosos e os fracos, protegem todo mundo, inclusive a si próprios. Os servos por sua vez têm outra condição. Esta raça de infelizes não tem nada sem sofrimento. Quem poderia reconstituir o esforço dos servos, o curso de sua vida e seus inúmeros trabalhos? Fornecer a todos alimento e vestimenta: eis a função do servo. Nenhum homem livre pode viver sem eles. Quando um trabalho se apresenta e é preciso encher a despensa, o rei e os bispos parecem se colocar sob a dependência de seus servos (...). A casa de Deus que parece una é portanto tripla: uns rezam, outros combatem e outros trabalham. Todos os três formam um conjunto e não se separam: a obra de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros.”
(In: FRANCO JR, Hilário. O Feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1987, p.
O trecho destacado aborda a questão do trabalho na Idade Média. Sobre isso, é correto afirmar:
A economia medieval conheceu períodos de profunda estagnação em razão do absoluto desinteresse dos homens pelo lucro, preocupados que estavam apenas com o culto de Deus e dos santos.
Um traço próprio da mentalidade medieval, quando comparada à de uma época posterior, é a ausência da preocupação pelo trabalho material e sua produtividade.
O grande número de festas religiosas imposto pela Igreja reduzia drasticamente os dias úteis de trabalho, provocando períodos de escassez de alimentos e, em consequência, maior preocupação dos homens com a vida eterna.
O anseio por resgatar-se do pecado original e por santificar-se levou o homem medieval a considerar o trabalho e seu produto um bem em si, ou seja, o caminho único que conduziria à felicidade eterna.
Na época mercantilista, a supressão de um bom número de feriados religiosos foi a causa de ter nascido nos homens a obsessão pelo trabalho e pela produtividade, bem própria da mentalidade capitalista então nascente.