Texto V
Leia o poema abaixo para responder às questões de 08 a 10.
O Autorretrato
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!
Mário Quintana, em Apontamentos de História Sobrenatural. Disponível em: http:/Anww.citador.pt/poemas/o-autoretrato-mario-quintana. Acesso em: 10 fev. 2022.
No poema "O Autorretrato", de Mário Quintana, o eu lírico tenta encontrar sua perfeita identidade em um autorretrato, em que:
Se pinta de várias maneiras, como nuvem, árvore, lembranças passadas que não venham a ter importância, e até mesmo sonhos que ainda não foram realizados, mas que ainda o serão.
Ao fim do poema, percebemos que as comparações feitas pelo eu lírico tratam de um desenho de criança que somente ela entende e que, aos poucos, reconhece.
Esse desenho não faz sentido para o eu lírico, e se alguém for analisá-lo, também não irá entendê-lo. Por isso, o eu lírico é considerado louco.
O eu lírico vai construindo sua própria imagem para o leitor. Assim, criador e criação misturam-se dentro do poema.
Ao opor figuras como a criança e o louco, o eu lírico busca afirmar a dificuldade inerente ao ato de se descobrir enquanto pessoa e poeta.