No desfecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector, a personagem Macabéa sofre um atropelamento, e morre. Em relação a esse desfecho, apenas é incorreto afirmar que:
Após a cena do atropelamento, ao longo de várias páginas, revela-se não apenas a indecisão do narrador, Rodrigo S. M., quanto ao destino que dará à sua protagonista como, também, sua relutância em anunciar a morte de Macabéa ao leitor.
Ao final de sua agonia, Macabéa profere uma última e enigmática frase, “- Quanto ao futuro”, justamente um dos doze títulos alternativos que figuram no início do romance, junto ao título A hora da estrela.
Por amarga ironia, Macabéa, que nunca despertara atenção maior das outras pessoas ao longo de toda a sua vida, encontra a sua “hora de estrela” no momento de morrer, ao se ver cercada por vários desconhecidos que espiam seu corpo caído no meio da rua.
Após o atropelamento, Macabéa se entrega, resignada, à morte, pois em momento algum dera crédito às fantasiosas promessas de felicidade futura que madama Carlota, a cartomante, lhe acabara de fazer.
A narrativa de Lispector estabelece um diálogo intertextual com o conto “A cartomante”, de Machado de Assis, no qual também há uma personagem que, logo após visitar uma cartomante e receber dela vaticínios auspiciosos, encontra a morte.