“No descomeço era o verbo.
Só depois é que o veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função do verbo
ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos –
o verbo tem que pegar delírio” (Manoel de Barros em O livro das ignorãnças).
Na poesia, duas constantes: o aprofundamento da reflexão sobre a realidade e a busca de novas formas de expressão. Mantendo a tradição discursiva, temos a permanência de nomes consagrados [...] ao lado de novos poetas que procuram aparar as arestas em suas produções.
Verifica-se ainda a permanência da poesia concreta. O aproveitamento dos espaços em branco na folha de papel e dos recursos gráficos, a sonoridade das palavras, as relações entre significado e significante continuam a desafiar tanto poetas consagrados quanto jovens talentos.
Deve-se salientar, ainda, a importância da poesia marginal que se desenvolve fora dos grandes esquemas industriais e comerciais de produção de livro (José de Nicola, em Português – Ensino Médio). A tendência literária a que se refere o texto de Nicola e da qual é exemplo o poema de João de Barros é
a poesia pré-modernista que revelou talentos como Lima Barreto e Graça Aranha, no início do século XX.
a poesia simbolista que foi buscar no íntimo da alma humana as angústias e os delírios da palavra na poesia.
a poesia de tendência contemporânea, mas próxima do século XXI, mas ainda com reflexos dos últimos modernistas de 45.
a poesia intimista, memorialista e depressiva, da qual o Romantismo se apropriou para fazer despontar nomes como Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela.
a poesia rebuscada, com seus paradoxos conceptistas e formas eruditas da linguagem cultista de que são exemplos Gregório de Matos e Pe. Antonio Vieira.
Neste poema de Manoel de Barros, percebemos recursos que fogem aos modelos tradicionais, como a subversão do sentido do verbo e o uso de uma linguagem que explora o som, o espaço e a relação entre significado e significante. Tais características marcam a chamada poesia contemporânea. O texto de Nicola destaca o desenvolvimento da poesia atual, que dialoga tanto com tradições já consolidadas quanto com inovações, com forte influência das experiências modernistas, incluindo a poesia concreta. Por isso, a alternativa correta é a letra C, que faz referência direta à poesia de tendência contemporânea, herdeira dos modernistas de 45, mas já encaminhada aos novos modos de expressão poética próximas ao século XXI.