No começo da vida sofreu Lampião numerosas injustiças e suportou muito empurrão. Arrastou a enxada de sol a sol, ganhando dez tostões por dia, e o inspetor de quarteirão, quando se aborrecia dele, amarrava-o e entregava-o a uma tropa, que o conduzia para a cadeia da vila. Aí ele aguentava uma surra de vergalho de boi e dormia com o pé no tronco.
As injustiças e os maus-tratos foram grandes, mas não desencaminharam Lampião. Ele é resignado, sabe que a vontade do coronel tem força de lei e pensa que apanhar do governo não é desfeita. O que transformou Lampião em besta-fera foi a necessidade de viver. Enquanto possuía um bocado de farinha e rapadura, trabalhou. Mas quando viu em redor dos bebedouros secos o gado mastigando ossos, quando já não havia no mato raiz de imbu ou caroço de mucunã, pôs o chapéu de couro, o patuá com orações da cabra preta, tomou o rifle e ganhou a capoeira. Lá está como bicho montado.(Graciliano Ramos, Revista Novidade n. 1. Maceió, abril /1931)
Considere o texto de Graciliano Ramos e os itens abaixo.
I. O movimento do cangaço foi fruto do mundo de violências que marcavam as relações na área rural e tinham na força a sua principal lei.
II. A ação militar do governo contra o movimento do cangaço deveu-se ao fato de seus seguidores adotarem posições antirrepublicanas e ameaçarem o poder político dos grandes proprietários rurais.
III. O cangaço, ao atrair sertanejos em busca de melhores condições de vida, diminuía o contingente de mão de obra nas fazendas e incentiva o ódio dos latifundiários.
IV. A intensificação à repressão efetiva ao cangaço ocorreu sobretudo no governo Vargas, que tinha a intenção de colocar o sertão nordestino sob o controle federal e de acabar com o poder regional dos coronéis e com as organizações paramilitares.
Considerando o contexto histórico brasileiro, em que ocorreu o movimento do cangaço, é correto o que se afirma SOMENTE em
I e II.
I e III.
I e IV.
II e III.
III e IV.
Portanto, as únicas afirmativas corretas são I e IV. A alternativa correta é a C.
O cangaço foi um fenômeno de banditismo social no sertão nordestino (final do século XIX e início do XX), fruto da pobreza extrema, da seca e da ausência do Estado. Seus participantes, chamados cangaceiros, formavam grupos armados liderados por figuras como Lampião.
Coronelismo refere-se ao domínio político e social dos grandes proprietários rurais (coronéis), que mantinham clientelas e usavam a violência para controlar o voto e impor sua vontade.
No Estado Novo (1937–1945), o governo de Getúlio Vargas empreendeu forte intervenção federal para pacificar o sertão, promover a centralização do poder e reprimir movimentos armados vistos como ameaça à ordem.