UEA 2013

Não sei que jornal, há algum tempo, noticiou que a polícia ia tomar sob a sua proteção as crianças que aí vivem, às dezenas, exploradas por meia dúzia de bandidos. Quando li a notícia, rejubilei. Porque, há longo tempo, desde que comecei a escrever, venho repisando este assunto, pedindo piedade para essas crianças e cadeia para esses patifes.

Mas os dias correram. As providências anunciadas não vieram. Parece que a piedade policial não se estende às crianças, e que a cadeia não foi feita para dar agasalho aos que prostituem corpos de sete a oito anos… E a cidade, à noite, continua a encher-se de bandos de meninas, que vagam de teatro em teatro e de hotel em hotel, vendendo flores e aprendendo a vender beijos.

Anteontem, por horas mortas, quando saía de um teatro na rua central da cidade, vi sentada uma menina, a uma soleira de porta. Ao lado, a sua cesta de flores murchas estava atirada sobre a calçada.

Pediu-me dez tostões, chorando. Perdera toda a féria. Só conseguira obter, ao cabo de toda uma tarde de caminhadas e de pena, esses dez tostões — perdidos ou furtados. E pelos seus olhos molhados passava o terror das bordoadas que a esperavam em casa…

Fiquei parado, longo tempo, a olhá-la. O seu vulto fugia já, pequenino, quase invisível na escuridão. Ainda de longe o vi, fracamente alumiado por um lampião, sumir-se, dobrando uma esquina. Segui o meu caminho, com a morte na alma.

Ora — nestes tempos singulares em que a gente já se habituou a ouvir sem espanto coisas capazes de horrorizar a alma de Deiber —, é possível que alguém, encolhendo os ombros diante disto, me pergunte o que é que eu tenho com a vida das crianças que vendem flores e são amassadas a sopapos, quando não levam para casa uma certa e determinada quantia.

Tenho tudo, amigos meus! Não penseis que me iluda sobre a eficácia das providências que possa a polícia tomar, a fim de salvar das pancadas o corpo e da devassidão a alma de qualquer dessas meninas. Bem sei que, enquanto o mundo for mundo e enquanto houver meninas — proteja-as ou não as proteja a polícia —, haverá pais que as esbordoem, mães que as vendam, cadelas que as industriem, cães que as deflorem!

(Olavo Bilac [Gazeta de Notícias, 14.08.1894]. www.consciencia.org. Adaptado.)

Olavo Bilac, autor da crônica, é bastante conhecido no contexto da literatura brasileira como poeta do
a
Romantismo, período do império da razão.
b
Parnasianismo, escola literária que buscava a perfeição formal.
c
Arcadismo, que aprofundou as características do Barroco.
d
Modernismo, responsável pela volta dos valores clássicos.
e
Simbolismo, estilo marcado pela experimentação.
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B
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