Não pode e não deve um príncipe prudente manter a palavra empenhada quando tal observância se volte contra ele e hajam desaparecido as razões que a motivaram. (...) Nas ações de todos os homens, especialmente os príncipes, (...) os fins é que contam. Faça, pois, o príncipe tudo para alcançar e manter o poder; os meios de que se valer serão sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo [o povo, a maioria das pessoas] atenta sempre para aquilo que parece ser e para os resultados.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe.
O monarca, desprezando as leis da natureza, abusa das pessoas livres como de escravos, e dos bens dos súditos como dos seus (...) quanto às leis divinas e naturais, todos os princípios da terra estão sujeitos, e não está em seu poder transgredi-las (...).
BODIN, Jean. A república.
A respeito das reflexões em torno do poder político no início da Idade Moderna, levando-se em consideração o pensamento de Nicolau Maquiavel (1469-1527) e de Jean Bodin (1530-1596), é correto afirmar que:
para Maquiavel, a política tem como objetivo a manutenção do poder do Estado e, para manter o poder, o governante deve lutar com todas as armas possíveis. Já para Bodin, o termo “república” que batiza sua obra é usado apenas em seu sentido etimológico de “coisa pública”, visto que para ele a forma preferencial de governo era a monarquia, defendendo a teoria do direito divino dos reis.
tanto Maquiavel quanto Bodin centram suas reflexões em torno da figura do governante. Maquiavel propõe a adoção de um sistema republicano, no qual o príncipe atue como difusor da justiça, assumindo o papel simultâneo de chefe do executivo e do judiciário. Bodin, por sua vez, idealiza uma república liberal, na qual a cidadania estende-se a todos os habitantes do reino.
enquanto Bodin recusa a figura dos monarcas como chefes de Estado, Maquiavel via na figura dos príncipes, detentores do poder absoluto, o caminho ideal para solução dos conflitos. Nesse sentido, a máxima “os fins justificam os meios” aplica-se à preocupação com a justiça e não aos resultados das ações do governante.
Bodin fazia sérias críticas a Maquiavel em seus textos, visto que defendia a necessidade de preocupação constante com a moral, por parte dos monarcas. Maquiavel, por sua vez, rebateu as críticas de Bodin no capítulo final de sua obra mais famosa, O príncipe.
Maquiavel e Bodin são exemplos de teóricos defensores do direito divino dos reis. Maquiavel atuou, inclusive, como defensor desse princípio à época de Luís XIV, a quem serviu como embaixador no início do século XVIII.