ENEM 2015 segunda aplicação

— Não, mãe. Perde a graça. Este ano, a senhora vai ver. Compro um barato.

— Barato? Admito que você compre uma lembrancinha barata, mas não diga isso a sua mãe. É fazer pouco-caso de mim.

— Ih, mãe, a senhora está por fora mil anos. Não sabe que barato é o melhor que tem, é um barato!

— Deixe eu escolher, deixe…

— Mãe é ruim de escolha. Olha aquele blazer furado que a senhora me deu no Natal!

— Seu porcaria, tem coragem de dizer que sua mãe lhe deu um blazer furado?

— Viu? Não sabe nem o que é furado? Aquela cor já era, mãe, já era!

ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.

O modo como o filho qualifica os presentes é incompreendido pela mãe, e essas escolhas lexicais revelam diferenças entre os interlocutores, que estão
relacionadas à

a
à linguagem infantilizada.
b
ao grau de escolaridade.
c
à dicotomia de gêneros.
d
às especificidades de cada faixa etária
e
à quebra de regras da hierarquia familiar.
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Resposta
D
Tempo médio
1 min

Resolução

A questão apresenta um diálogo entre mãe e filho sobre a compra de um presente. O cerne da questão reside na dificuldade de comunicação entre os dois, causada pelo uso de expressões pelo filho que possuem significados diferentes para cada um.

1. Identificação do Conflito: O conflito se inicia quando o filho diz que vai comprar um presente "barato". A mãe interpreta "barato" em seu sentido denotativo, ou seja, de baixo custo, e se sente menosprezada ("É fazer pouco-caso de mim"). O filho, no entanto, usa "barato" como gíria, com sentido conotativo de algo "legal", "bom", "interessante" ("Não sabe que barato é o melhor que tem, é um barato!").

2. Análise da Segunda Expressão: O conflito se intensifica quando o filho critica um presente anterior, um blazer, chamando-o de "furado". Novamente, a mãe interpreta literalmente, pensando que a peça de roupa tinha furos ("Seu porcaria, tem coragem de dizer que sua mãe lhe deu um blazer furado?"). O filho, porém, usa "furado" como gíria para indicar algo ultrapassado, fora de moda ("Aquela cor já era, mãe, já era!").

3. Relação com as Alternativas: O enunciado pergunta o que essas escolhas lexicais (o uso das palavras "barato" e "furado") revelam sobre as diferenças entre os interlocutores.

  • A alternativa A está incorreta porque a linguagem do filho não é infantilizada, mas sim uma gíria típica de um grupo social ou etário específico.
  • A alternativa B está incorreta pois o texto não fornece elementos para inferir o grau de escolaridade de nenhum dos personagens. A diferença é de vocabulário e semântica, não necessariamente de educação formal.
  • A alternativa C está incorreta. Embora os interlocutores sejam de gêneros diferentes (mãe/mulher, filho/homem), a causa do desentendimento não é a diferença de gênero, mas sim a interpretação das gírias.
  • A alternativa D está correta. As gírias usadas pelo filho ("barato", "furado") são típicas de uma faixa etária mais jovem, enquanto a mãe, pertencente a outra geração, desconhece esses significados e interpreta as palavras em seu sentido literal ou mais antigo. Isso evidencia uma clara diferença de linguagem associada à idade/geração.
  • A alternativa E está incorreta. Embora haja um desentendimento, o foco principal do texto é a falha de comunicação devido à linguagem, e não uma quebra deliberada de hierarquia familiar. A incompreensão linguística é a raiz do problema.

Conclusão: A incompreensão mútua decorre do uso de gírias pelo filho, que pertencem a um universo vocabular e semântico diferente do da mãe. Essa diferença está diretamente ligada às suas respectivas faixas etárias e às variações linguísticas que ocorrem entre gerações.

Dicas

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Preste atenção nas palavras que geram discordância: "barato" e "furado".
Qual o significado que o filho atribui a essas palavras? E qual o significado que a mãe atribui?
Por que você acha que eles entendem essas palavras de forma diferente? Pense na idade deles.

Erros Comuns

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Confundir gíria com linguagem infantilizada (levando à alternativa A).
Inferir informações não presentes no texto, como o nível de escolaridade (levando à alternativa B).
Atribuir o conflito a diferenças de gênero sem que o texto dê suporte a isso (levando à alternativa C).
Focar no tom da discussão (desrespeito, conflito) em vez da causa linguística do problema (levando à alternativa E).
Não reconhecer que "barato" e "furado" são usados como gírias com significados específicos para o filho, diferentes da interpretação literal da mãe.
Revisão

Revisão de Conceitos: Variação Linguística

A língua não é uniforme; ela varia de acordo com diversos fatores. Esse fenômeno é chamado de Variação Linguística.

  • Variação Diatópica (Geográfica): Diferenças de sotaque, vocabulário e estrutura entre regiões (ex: "mandioca" vs. "aipim" vs. "macaxeira").
  • Variação Diastrática (Social): Diferenças relacionadas a grupos sociais, como classe social, nível de escolaridade, ou grupos específicos (ex: jargões profissionais, gírias de grupos).
  • Variação Diafásica (Situacional): Adequação da linguagem ao contexto ou situação de comunicação (formal vs. informal).
  • Variação Diacrônica (Histórica/Geracional): Mudanças na língua ao longo do tempo e diferenças no uso da linguagem entre diferentes gerações. Gírias são um exemplo comum de variação que pode ser fortemente marcada por fatores geracionais. Palavras podem cair em desuso, surgir ou mudar de significado entre uma geração e outra.

No texto, a diferença no uso e compreensão das palavras "barato" e "furado" ilustra a variação linguística geracional, um subtipo da variação diastrática e diacrônica, onde a idade dos falantes influencia seu léxico e a semântica atribuída a certas palavras (gírias).

Porcentagem de alternativa escolhida por nota TRI
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