A questão apresentada no texto de Santo Agostinho, extraído de suas "Confissões", aborda um problema teológico e filosófico clássico: o que Deus fazia antes da criação do mundo? Agostinho relata a indagação de alguns que questionam a aparente ociosidade de Deus antes da criação e a implicação de uma "vontade nova" em Deus para criar, o que pareceria contradizer Sua eternidade e imutabilidade.
1. Análise do Problema Central: A dificuldade levantada pelos críticos reside em conciliar a ideia de um Deus eterno e imutável com o ato da criação, que parece introduzir uma mudança (uma nova vontade, uma ação que antes não ocorria) na divindade. Aplicar conceitos humanos de tempo ("antes", "depois", "novo movimento") a um ser considerado fora do tempo (eterno) gera um paradoxo.
2. A Reflexão Filosófica Implícita: Ao confrontar essa questão, Agostinho não está apenas discutindo a natureza de Deus ou o ato da criação em si. Ele está, fundamentalmente, expondo os limites da capacidade humana de compreender conceitos que transcendem a experiência e a lógica temporal. A própria formulação da pergunta ("Que fazia Deus *antes*...?") revela uma tentativa de enquadrar o eterno em categorias temporais, o que é problemático.
3. Avaliação das Alternativas:
- A (ética cristã): O foco não é moral ou comportamental, mas metafísico (natureza do ser, tempo, eternidade).
- B (tradição): Embora a questão surja numa tradição, o cerne é o problema filosófico em si, não a natureza da tradição.
- C (certezas da experiência): A questão lida com o transcendente, que está além da experiência empírica direta e desafia certezas fáceis.
- D (abrangência da compreensão humana): Esta opção captura a essência do problema. A dificuldade em responder à pergunta sobre Deus e o tempo antes da criação demonstra os limites (a abrangência) do nosso entendimento ao lidar com o infinito e o eterno.
- E (interpretações da realidade circundante): O foco é a realidade última (Deus, eternidade), não a realidade imediatamente observável.
4. Conclusão: A questão levantada e a dificuldade em respondê-la de forma satisfatória dentro dos limites da lógica humana temporal são um exemplo claro de como a filosofia reflete sobre a própria capacidade e os limites do entendimento humano, especialmente quando confrontado com conceitos como o infinito e a eternidade divina. Portanto, a reflexão filosófica exemplificada é sobre a abrangência da compreensão humana.