ENEM 2018

Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?”

AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cuitural, 1984.

A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um exemplo da reflexão filosófica sobre a(s)

a
essência da ética cristã.
b
natureza universal da tradição.
c
certezas inabaláveis da experiência.
d
abrangência da compreensão humana.
e
interpretações da realidade circundante.
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Resposta
D
Tempo médio
1 min

Resolução

A questão apresentada no texto de Santo Agostinho, extraído de suas "Confissões", aborda um problema teológico e filosófico clássico: o que Deus fazia antes da criação do mundo? Agostinho relata a indagação de alguns que questionam a aparente ociosidade de Deus antes da criação e a implicação de uma "vontade nova" em Deus para criar, o que pareceria contradizer Sua eternidade e imutabilidade.

1. Análise do Problema Central: A dificuldade levantada pelos críticos reside em conciliar a ideia de um Deus eterno e imutável com o ato da criação, que parece introduzir uma mudança (uma nova vontade, uma ação que antes não ocorria) na divindade. Aplicar conceitos humanos de tempo ("antes", "depois", "novo movimento") a um ser considerado fora do tempo (eterno) gera um paradoxo.

2. A Reflexão Filosófica Implícita: Ao confrontar essa questão, Agostinho não está apenas discutindo a natureza de Deus ou o ato da criação em si. Ele está, fundamentalmente, expondo os limites da capacidade humana de compreender conceitos que transcendem a experiência e a lógica temporal. A própria formulação da pergunta ("Que fazia Deus *antes*...?") revela uma tentativa de enquadrar o eterno em categorias temporais, o que é problemático.

3. Avaliação das Alternativas:

  • A (ética cristã): O foco não é moral ou comportamental, mas metafísico (natureza do ser, tempo, eternidade).
  • B (tradição): Embora a questão surja numa tradição, o cerne é o problema filosófico em si, não a natureza da tradição.
  • C (certezas da experiência): A questão lida com o transcendente, que está além da experiência empírica direta e desafia certezas fáceis.
  • D (abrangência da compreensão humana): Esta opção captura a essência do problema. A dificuldade em responder à pergunta sobre Deus e o tempo antes da criação demonstra os limites (a abrangência) do nosso entendimento ao lidar com o infinito e o eterno.
  • E (interpretações da realidade circundante): O foco é a realidade última (Deus, eternidade), não a realidade imediatamente observável.

4. Conclusão: A questão levantada e a dificuldade em respondê-la de forma satisfatória dentro dos limites da lógica humana temporal são um exemplo claro de como a filosofia reflete sobre a própria capacidade e os limites do entendimento humano, especialmente quando confrontado com conceitos como o infinito e a eternidade divina. Portanto, a reflexão filosófica exemplificada é sobre a abrangência da compreensão humana.

Dicas

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O texto discute uma pergunta que parece difícil ou paradoxal de responder sobre Deus. Por que ela é tão difícil para nós?
Pense sobre como nossa mente funciona em relação ao tempo. É fácil pensar em algo 'antes' do próprio tempo existir?
A questão do Enem não pergunta a resposta de Agostinho, mas sim o que o *tipo* de problema que ele discute nos diz sobre a filosofia ou sobre nossa capacidade de pensar.

Erros Comuns

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Confundir o tema metafísico/teológico (natureza de Deus, tempo, eternidade) com ética (opção A).
Achar que, por ser um texto clássico, a questão se refere à tradição em si (opção B).
Não perceber que a questão trata de conceitos abstratos e transcendentes, e não de certezas baseadas na experiência (opção C).
Interpretar "realidade" de forma muito ampla, sem notar que o foco não é o mundo observável imediato (opção E).
Não captar que a questão do Enem pede uma reflexão sobre a *natureza* do problema filosófico apresentado por Agostinho, e não a solução de Agostinho para ele.
Revisão

Revisão de Conceitos

  • Metafísica: Ramo da filosofia que investiga os princípios fundamentais da realidade, incluindo a natureza do ser (ontologia), a existência, o tempo, o espaço, a causalidade e a relação mente-corpo. A questão de Agostinho é profundamente metafísica.
  • Eternidade vs. Tempo: Na filosofia clássica e teologia, 'eternidade' frequentemente não significa tempo infinitamente longo, mas uma existência fora do tempo, sem antes nem depois. O 'tempo' é visto como uma característica do mundo criado.
  • Imutabilidade Divina: Atributo tradicionalmente associado a Deus em muitas teologias, significando que Deus não muda em Seu ser, perfeições, propósitos ou vontade. A criação parece desafiar essa imutabilidade se vista como uma 'nova decisão'.
  • Criação "ex nihilo": Doutrina teológica (presente no Cristianismo, Judaísmo e Islamismo) de que Deus criou o universo a partir do nada, sem matéria preexistente.
  • Epistemologia: Ramo da filosofia que estuda o conhecimento, incluindo sua natureza, origem, limites e validade. Refletir sobre a 'abrangência da compreensão humana' é uma questão epistemológica.
24%
Taxa de acerto
19.0
Média de pontos TRI
Habilidade

Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.

Porcentagem de alternativa escolhida por nota TRI
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