Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave1.
Há só uma janela fechada, e todo mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
(As múltiplas faces de Fernando Pessoa, 1995.)
1cave: passagem subterrânea.
No poema, o eu lírico deixa claro que
a percepção da realidade independe de se seguir ou não uma filosofia, pois todos sentem o mundo da mesma forma.
as pessoas normalmente vivem muito presas à realidade, o que fica mais intenso ao se buscar uma filosofia.
as filosofias deturpam a realidade, impedindo que as pessoas enxerguem o mundo como ele realmente é.
o seu espírito filosófico está sem sintonia com o mundo sensível, permitindo-lhe abrir a janela e enxergar campos e rio.
o lado sensível das pessoas pode ser potencializado com uma filosofia, que lhes permite entender melhor o mundo.