Leia o texto a seguir:
Nem sempre o estresse é ruim
Evidências científicas convergem para o valor educacional de ensinar os alunos a sair da zona de conforto, aceitar desafios estressantes, e aprender a controlar sua cognição
A gente cresce sendo convencido de que todo estresse é para ser evitado. Compreensível. Estresse desvia a atenção, prejudica o raciocínio, exacerba as emoções. E ainda por cima causa aceleração do coração, respiração mais funda, e suor na testa e nas mãos. A percepção dessas reações corporais agrava O sentimento de angústia e a dificuldade de superação. De fato, o estresse crônico pode ter consequências severas, uma delas sendo a ansiedade, que pode vir acompanhada de depressão. Não há como negar que a vida em uma comunidade violenta, por exemplo, causa profundas consequências nos moradores, imaginem nas crianças. Também foi observado aumento desses casos quando a pandemia nos obrigou a ficar em casa, já que o convívio social tornou-se ameaçador.
Mas há um tipo de estresse moderado que não precisa ser evitado. Ao contrário, pode ser conhecido e controlado, o que se torna muito útil para o desempenho social e profissional, particularmente nos adolescentes e adultos jovens. A professora passa aos alunos uma pergunta de matemática que devem responder na hora: contem para trás de 7 em 7 a partir de 996. Valendo nota! Ou uma tarefa de ciências sociais que deve ser executada para o dia seguinte: qual o papel das mulheres na abolição da escravidão? Ou um tema de biologia que deve ser exposto na frente da turma: há vida no espaço? Estresse direto.
Uma forte corrente de educadores advoga que esse tipo de estresse deve ser evitado para não prejudicar a aprendizagem. Mas como ele não pode ser eliminado da vida real, não seria melhor habilitar os alunos a lidar com ele, controlá-lo a seu favor? E o que defende um grupo de pesquisadores norte-americanos em artigo denso e pleno de evidências, recém-publicado na revista Nature.
A proposta foi combinar duas posturas mentais (mindsets) em uma única intervenção, aplicada a adolescentes e adultos jovens durante apenas meia-hora. A primeira postura consiste em encarar as situações desafiadoras como oportunidades de crescimento, e não como provas de (in)capacidade. A segunda visa a identificar e controlar as respostas corporais provocadas pelo estresse. A intervenção experimental podia variar, mas sempre combinava as duas atitudes mentais positivas perante o estresse. Textos ou áudios veiculados on-line, com perguntas e comentários sobre como encarar situações de estresse. Ou então situações naturalistas em que o voluntário era solicitado a falar à frente do pesquisador, enquanto este realizava gestos sutis de desagrado, franzindo as sobrancelhas ou suspirando. Em algumas dessas situações, os parâmetros corporais eram medidos de modo miniaturizado e amigável.
Ao todo foram milhares de alunos do segundo grau de escolas públicas nos EUA, e universitários do ciclo básico, em seis experimentos diferentes. Em todos eles, dois grupos eram selecionados aleatoriamente para realizar os experimentos estressantes, ou então percorrer o mesmo caminho sem estresse. E os pesquisadores que analisavam os dados não sabiam quem era quem: é o que se chama “experimento duplo-cego”. Dois dos experimentos foram feitos durante o período de isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19.
Entre 1 e 3 dias depois da intervenção, os voluntários foram testados em situações de estresse sem aviso prévio, e os resultados foram extremamente positivos: percepção mais positiva das dificuldades, melhor desempenho, melhor autoavaliação, menor incidência de irregularidades cardiorrespiratórias. Tinham aprendido a aceitar o estresse e controlá-lo a seu favor.
O ponto aqui é que faz parte da melhor pedagogia seguir as evidências científicas, e neste caso elas convergem para o valor educacional de ensinar os alunos a sair da zona de conforto, aceitar desafios estressantes, e aprender a controlar sua cognição e até mesmo suas respostas corporais. Aceitar o estresse moderado como desafio a vencer, e não como barreira a impedir a passagem.
Fonte: https://oglobo.globo.com/blogs/a-hora-da-ciencia/post/2022/10/nem-sempre-o-estresse-e-ruim.ghtml. Acesso em 02/02/2022
Na palavra “cardiorrespiratórias”, o elemento mórfico destacado deve ser considerado:
prefixo
sufixo
radical
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