Texto 1 (referente às questões de 1 a 12)
Sobre a Escrita ...
Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.
Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma ideia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.
Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por uma extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.
Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.
Simplesmente não há palavras.
O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.
Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranquilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.
Simplesmente as palavras do homem.
(Clarice Lispector)
Fonte: contobrasileiro.com.br/sobre-a-escrita-conto-de-clarice-lispector/
Na frase "Simplesmente não há palavras." (§5), há um exemplo de oração sem sujeito. Assinale a opção que também apresenta uma oração sem sujeito.
Ocorreu um acidente na via expressa.
Chegaram os convidados para a festa.
Precisa-se de professor de alemão.
Ontem chuviscou durante toda tarde.
Viveu naquele bairro durante meses.
Para identificar uma oração sem sujeito, devemos buscar por verbos que não possuem um agente definido realizando a ação. Esses verbos geralmente são impessoais e são usados na terceira pessoa do singular. No exemplo dado, 'Simplesmente não há palavras.', o verbo 'haver' no sentido de existir é impessoal, portanto não possui sujeito. A mesma lógica é aplicada para encontrar a opção correta entre as alternativas apresentadas.
Procure por verbos que não se associam a um agente específico e que geralmente se referem a fenômenos naturais ou existência.
Identifique se a frase indica um evento que não é realizado por um sujeito, mas que simplesmente ocorre.
Considere que certos verbos como 'haver' no sentido de existir e verbos que indicam fenômenos da natureza são comumente impessoais.
Um erro comum é confundir orações com sujeito indeterminado com orações sem sujeito, ou não reconhecer que verbos relacionados a fenômenos da natureza são impessoais e não possuem sujeito.
Oração sem sujeito: É aquela que tem um verbo impessoal, isto é, um verbo que não se refere a nenhum sujeito em particular. Verbos que indicam fenômenos da natureza ou o verbo 'haver' no sentido de existir são comumente usados de forma impessoal.