FUVEST 2016

Na Belle Époque brasileira, que difusamente coincidiu com a transição para o regime republicano, surgiram aquelas perguntas cruciais, envoltas no oxigênio mental da época, muitas das quais, contudo, nos incomodam até hoje: como construir uma nação se não tínhamos uma população definida ou um tipo definido? Frente àquele amálgama de passado e futuro, alimentado e realimentado pela República, quem era o brasileiro? (...) Inúmeras tentativas de respostas a todas estas questões mobilizaram os intelectuais brasileiros durante várias décadas.

Elias Thomé Saliba. Raízes do riso. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Entre as tentativas de responder, durante a Belle Époque brasileira, às dúvidas mencionadas no texto, é correto incluir

a

as explicações positivistas e evolucionistas sobre o impacto da mistura de raças na formação do caráter nacional brasileiro.

b

os projetos de valorização dos vínculos entre o caráter nacional brasileiro e os produtos da indústria cultural norte-americana.

c

o reconhecimento e a celebração da origem africana da maioria dos brasileiros e a rejeição das tradições europeias.

d

a percepção de que o país estava plenamente inserido na modernidade e havia assumido a condição de potência mundial.

e

o desejo de retornar ao período anterior à chegada dos europeus e de recuperar padrões culturais e cotidianos indígenas.

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Resposta
A

Resolução

A questão aborda o período da Belle Époque brasileira (aproximadamente final do século XIX e início do século XX), um momento de transformações sociais, políticas (transição para a República) e culturais, marcado por intensos debates intelectuais sobre a identidade nacional. O texto de Elias Thomé Saliba destaca a pergunta central da época: "quem era o brasileiro?". Para responder a essa questão, precisamos identificar qual das alternativas reflete corretamente uma das correntes de pensamento ou projetos intelectuais predominantes naquele período específico.

1. Análise do Contexto: A Belle Époque no Brasil foi fortemente influenciada por ideias europeias, especialmente francesas. O pensamento científico da época, incluindo o Positivismo de Auguste Comte e as teorias evolucionistas (muitas vezes deturpadas como Darwinismo Social), tinha grande prestígio entre as elites intelectuais e políticas.

2. A Questão Racial: A composição étnica diversificada do Brasil (indígenas, europeus, africanos e seus descendentes) era um tema central. As teorias científicas da época, infelizmente, eram frequentemente usadas para justificar hierarquias raciais. O Positivismo e o Evolucionismo foram aplicados para analisar a sociedade brasileira, e a "mistura de raças" (miscigenação) era um tópico de intenso debate. Muitos intelectuais viam a miscigenação com preocupação, associando-a a problemas sociais ou à degenerescência, enquanto outros tentavam encontrar nela elementos positivos ou inevitáveis para a formação do Brasil.

3. Avaliação das Alternativas:

  • A: Afirma que houve explicações positivistas e evolucionistas sobre o impacto da mistura de raças. Isso está correto. Intelectuais como Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha (em parte de sua obra) debateram extensivamente o papel das raças na formação do Brasil, utilizando o arcabouço teórico do positivismo e do evolucionismo social. Essas teorias eram usadas para tentar explicar o "caráter nacional".
  • B: Fala em valorização de vínculos com a indústria cultural norte-americana. A influência cultural predominante na Belle Époque era europeia, não norte-americana. A influência dos EUA se intensificou mais tarde, especialmente após a Segunda Guerra Mundial.
  • C: Menciona reconhecimento e celebração da origem africana e rejeição das tradições europeias. Isso é o oposto do que predominava na elite intelectual da época, que era largamente eurocêntrica e via a herança africana como um empecilho ao "progresso" e à "civilização".
  • D: Afirma que o país se via como moderno e potência mundial. A percepção dominante entre as elites era a de um país atrasado que precisava se modernizar e civilizar, buscando espelhar-se na Europa.
  • E: Fala em retornar a padrões culturais indígenas. Embora o indianismo tenha sido um tema do Romantismo no século XIX, a Belle Époque estava mais focada em ideias de progresso, ciência e modernização nos moldes europeus, não em um retorno ao passado indígena.

4. Conclusão: A alternativa A descreve com precisão uma das principais abordagens intelectuais usadas para tentar responder à questão da identidade nacional brasileira durante a Belle Époque, refletindo a influência das correntes científicas e filosóficas europeias da época sobre o debate racial no Brasil.

Portanto, a alternativa correta é a A.

Dicas

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Pense nas principais correntes filosóficas e científicas europeias que influenciavam o Brasil no final do século XIX e início do XX.
Como a questão da diversidade étnica brasileira era interpretada à luz dessas teorias científicas da época?
Qual era a visão predominante da elite intelectual brasileira sobre o 'progresso' e a 'civilização' naquele período?

Erros Comuns

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Confundir a Belle Époque com períodos posteriores onde a influência cultural norte-americana se tornou mais forte (erro relacionado à opção B).
Aplicar visões contemporâneas sobre multiculturalismo e valorização da herança africana ao passado, ignorando o racismo científico e o eurocentrismo dominantes na elite da época (erro relacionado à opção C).
Acreditar que o otimismo da Belle Époque significava uma percepção de que o Brasil já era uma potência desenvolvida (erro relacionado à opção D).
Associar a discussão sobre identidade nacional automaticamente ao Indianismo romântico do século XIX, sem perceber a mudança de foco para as teorias científicas e raciais na Belle Époque (erro relacionado à opção E).
Não conhecer ou não relacionar o Positivismo e o Evolucionismo Social ao contexto intelectual brasileiro da Primeira República.
Revisão

Revisão de Conceitos

  • Belle Époque Brasileira: Período da história do Brasil, aproximadamente entre o final do século XIX e o início do século XX (coincidindo com a Primeira República), caracterizado por otimismo, crença no progresso, modernização urbana (especialmente no Rio de Janeiro), e forte influência cultural europeia (principalmente francesa).
  • Primeira República (República Velha): Período da história brasileira de 1889 a 1930, marcado pelo regime republicano, federalismo, política oligárquica ("café com leite") e transformações sociais e econômicas.
  • Identidade Nacional: Conjunto de características sociais, culturais, históricas e psicológicas que definem um povo ou nação e o distinguem de outros. A busca pela definição da identidade brasileira foi um tema recorrente na intelectualidade do país.
  • Positivismo: Corrente filosófica criada por Auguste Comte que defendia o método científico como única fonte de conhecimento verdadeiro e propunha uma reorganização social baseada na ciência. Teve grande influência no Brasil, inclusive no lema da bandeira "Ordem e Progresso".
  • Evolucionismo Social (e Darwinismo Social): Aplicação (muitas vezes distorcida) das teorias da evolução biológica de Darwin às sociedades humanas, sugerindo que as sociedades evoluem de estágios "inferiores" para "superiores". Frequentemente associado a teorias raciais que hierarquizavam os povos, considerando os europeus como o ápice da evolução.
  • Teorias Raciais do Século XIX/XX: Conjunto de ideias pseudocientíficas que buscavam classificar e hierarquizar grupos humanos com base em características fenotípicas ("raças"), frequentemente usadas para justificar o colonialismo, a escravidão e a discriminação. No Brasil, essas teorias foram usadas para debater a miscigenação e o futuro da nação.
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