ENEM 2021
Minha fórmula para o que há de grande no individuo é amor fati: nada desejar além daquilo que é, nem diante de si, nem atrás de si, nem nos séculos dos séculos. Não se contentar em suportar o inelutável, e ainda menos dissimulá-lo, mas amá-lo.
NIETZSCHE apud FERRY | Aprender a viver filosofia para os novos tempos Ro de Janeiro Obetvs, 2010 (adaptado)
Essa fórmula indicada por Nietzsche consiste em uma critica à tradição cristã que
combate as práticas sociais de cunho afetivo.
impede o avanço cientifico no contexto moderno.
associa os cultos pagãos à sacralização da natureza.
condena os modelos filosóficos da Antiguidade Clássica.
consagra a realização humana ao campo transcendental.
Resolução
A questão pede para identificar qual aspecto da tradição cristã é criticado pela fórmula "amor fati" de Nietzsche, apresentada no texto.
1. Compreensão do Texto-Base: O texto define "amor fati" (amor ao destino) como a fórmula de Nietzsche para a grandeza. Consiste em não desejar nada diferente do que é – passado, presente ou futuro. Mais do que suportar o inevitável, é preciso amá-lo.
2. Análise do Conceito de Amor Fati: O "amor fati" é uma aceitação radical e afirmativa da totalidade da vida e da realidade, com todas as suas alegrias, dores e dificuldades. É uma celebração do aqui e agora, do mundo imanente.
3. Relação com a Crítica de Nietzsche ao Cristianismo: Nietzsche é um crítico ferrenho do que ele percebe como a negação da vida promovida pelo cristianismo. Ele argumenta que a moral cristã, ao focar em um mundo além (o Céu, a vida após a morte), desvaloriza a existência terrena. O sofrimento neste mundo é visto como algo a ser suportado em nome de uma recompensa futura em um plano transcendental. A esperança cristã estaria, para Nietzsche, em fugir deste mundo, e não em afirmá-lo.
4. Conexão entre Amor Fati e a Crítica: O "amor fati" se opõe diretamente a essa visão. Ao pregar o amor àquilo que é, incluindo o sofrimento e as dificuldades como partes inerentes da existência, Nietzsche rejeita a ideia de buscar consolo ou realização em um plano transcendental. A grandeza estaria em amar este mundo e este destino, não em esperar por outro.
5. Avaliação das Alternativas:
- A alternativa A está incorreta. A crítica não é sobre práticas afetivas sociais, mas sobre a valoração da vida.
- A alternativa B está incorreta. Embora haja debates históricos, a crítica específica do "amor fati" não é sobre o impedimento do avanço científico.
- A alternativa C está incorreta. A relação do cristianismo com cultos pagãos não é o foco da crítica expressa pelo "amor fati".
- A alternativa D está incorreta. Nietzsche valorizava aspectos da Antiguidade Clássica em contraste com o cristianismo; a crítica não é sobre o cristianismo condenar modelos clássicos.
- A alternativa E está correta. O "amor fati" critica a tradição cristã por localizar a plena realização humana não nesta vida, mas em um campo transcendental (o Céu, a vida eterna), desvalorizando, assim, a existência terrena que o "amor fati" busca afirmar e amar incondicionalmente.
Conclusão: A fórmula "amor fati" de Nietzsche, ao exigir o amor incondicional à realidade imanente, critica a tradição cristã por direcionar a esperança e a realização humana para um plano transcendental, desvalorizando a vida presente.
Dicas
Erros Comuns
Revisão de Conceitos:
- Amor Fati (Nietzsche): Expressão latina que significa "amor ao destino". Para Nietzsche, é a atitude de aceitação total e afirmativa de tudo o que aconteceu, acontece e acontecerá na vida, incluindo sofrimento e perdas, não como resignação passiva, mas como um ato de vontade e amor pela realidade como ela é. É um componente central da sua filosofia da afirmação da vida.
- Crítica de Nietzsche ao Cristianismo: Nietzsche via o cristianismo como uma moralidade de "escravos" nascida do ressentimento contra os valores nobres e a força vital. Ele criticava o cristianismo por, segundo ele, negar a vida terrena, desvalorizar os instintos e o corpo, e focar em um "além" (mundo transcendental, vida após a morte), promovendo uma atitude de fuga e negação em relação a este mundo.
Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.
