PUC-Campinas Direito 2015

Meu caro Drummond

 

Antes de mais nada: você é muito inteligente, puxa! A sua carta é simplesmente linda. E tem uma coisa que não sei se você

notou. A primeira vinha um pouco de fraque. A segunda era natural que viesse de paletó-saco. Mas fez mais. Veio fumando, de

chapéu na cabeça, bateu-me familiarmente nas costas e disse: Te incomodo? Eu tenho uma vaidade: a deste dom de envelhecer

depressa as camaradagens. Pois, camarada velho, sente-se aí e vamos conversar. Olhe, você não repare se vou escrever sintético. É

que de verdade mesmo não posso me estender nas minhas cartas. Não tenho tempo pra nada, de tal forma estou ocupado. [...]

...e ainda não falei nos seus versos... Gostei. Gostei francamente, embora a sua prosa por enquanto seja mais segura que

seus versos. [...]

  Como pratico com o Manuel Bandeira e o Luís Aranha, e eles comigo, mando-te os teus versos com algumas sugestões. Mas

quero que eles voltem pra mim. Preciso deles em minha casa enquanto não se publicam.

E até logo. Lembranças aos amigos.

Um abraço do coração.

 

Mário de Andrade.

 

Obs.: paletó-saco = paletó mais informal. (ANDRADE, Mário de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade, anotadas pelo destinatário. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982. p. 11, 16 e 17)

O fragmento acima, em sua especificidade, representa tipo de texto sobre o qual é correto afirmar:

a

condensa forma fixa e oficial de comunicação, definida pela intenção do remetente − dialogar com o destinatário sobre temas do cotidiano relevantes para ambos e manifestar seu juízo de valor acerca desses assuntos.

b

é prática social de comunicação privada, dependente, em qualquer momento histórico que se considere, da palavra escrita e de mensageiro que transporte e entregue a mensagem.

c

é forma composta, obrigatoriamente, da indicação do local em que se encontra o remetente; da data em que ele se manifesta; do nome do destinatário; da saudação; do diálogo propriamente dito; da despedida e assinatura, ainda que a disposição desses elementos possa variar.

d

constitui modelo de comunicação disponível na cultura e permeável a variações, como a relacionada ao tipo de linguagem usado, em que o emprego da linguagem formal ou informal pode depender da intimidade entre remetente e destinatário.

e

é gênero de interação por meio da palavra escrita que pressupõe, por parte dos interlocutores, conhecimento pleno do contexto em que se inserem, o que dispensa o detalhamento dos temas da conversa, principalmente porque são oferecidos no obrigatório discurso precedente.

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Resposta
D

Resolução

Para resolver a questão, primeiro identifique o tipo textual apresentado no enunciado: trata-se de uma carta (texto epistolar) de caráter pessoal, enviada por Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade. Em seguida, analise cada alternativa, verificando se as características apontadas correspondem às particularidades desse gênero.

1. Reconheça as marcas de carta pessoal: vocativo ("Meu caro Drummond"), saudação, corpo do texto dialogado, despedida ("E até logo. Lembranças aos amigos. Um abraço do coração."), pós-escrito ("Obs.: paletó-saco...") e assinatura. Note ainda o uso de linguagem informal, intimista e variações no ordenamento dos elementos.

2. Compare cada descrição das alternativas com esses traços:

  • Alternativas A, B, C e E apresentam imprecisões ou exigências que não se ajustam ao texto (por exemplo, forma fixa e oficial, obrigatoriedade de mensageiro específico, exigência de todos os itens sempre em mesma ordem, ou suposta dispensa de detalhamento por conhecimento pleno).
  • A alternativa D afirma que a carta é um modelo de comunicação cultural disponível e permeável a variações, inclusive no registro de linguagem, conforme o grau de intimidade entre remetente e destinatário. Essa caracterização coincide com o fragmento, em que a linguagem informal e apelativa reflete proximidade.

Logo, a opção correta é a D.

Dicas

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Observe os elementos típicos de cartas pessoais e sua flexibilidade.
Analise o registro de linguagem (formal vs. informal) e sua relação de intimidade.
Compare cada alternativa com o texto para identificar incoerências.

Erros Comuns

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Interpretar carta pessoal como forma oficial (A).
Associar obrigatoriamente carta a mensageiro físico (B).
Acreditar que todos os elementos epistolares devem sempre aparecer na mesma ordem (C).
Supor que o contexto dispensa explicações em uma carta (E).
Revisão

Gênero textual: Carta pessoal

  • Intenção comunicativa: estabelecer diálogo íntimo e espontâneo, mesclando informações cotidianas e afetivas.
  • Estrutura básica: vocativo, saudação, corpo, despedida, pós-escrito (opcional) e assinatura.
  • Variedade linguística: pode adotar registro formal ou informal, dependendo da relação entre as pessoas.
  • Flexibilidade estrutural: a disposição dos elementos pode variar conforme convenção ou estilo do autor.
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