Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
[...]
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego
Qual seja, – dizei!
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? – Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
Não vil, não ignavo1,
Não vil, não ignavo1,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro:
Se a vida deploro,
Também sei morrer.
GONÇALVES DIAS – I-Juca Pirama.
Nas estrofes transcritas, o guerreiro tupi:
aceita heroicamente a prisão e a morte ritual sem se preocupar com a velhice, a solidão e a fragilidade do seu pai.
aceita resignadamente a morte ritual que os timbiras lhe destinam e o abandono a que ficará votado o seu velho pai.
acovarda-se perante a morte iminente, com a justificativa de ser a única pessoa que resta para cuidar do seu pai, velho, cego e enfraquecido.
pretende conciliar o princípio de honra do guerreiro, que jamais teme a morte, com o princípio do amor filial, que lhe exige cuidar do seu pai, cego e enfraquecido pela velhice.
rejeita orgulhosamente a morte ritual pelos timbiras, a fim de cuidar do seu velho pai e restaurar o poder de sua tribo.