Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo. Não poderia nunca liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe restava jogar-se ao mundo, como negro fugido.
Saíram de madrugada. Sinha Vitória meteu o braço pelo buraco da parede e fechou a porta da frente com a taramela. Atravessaram o pátio, deixaram na escuridão o chiqueiro e o curral, vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros. Ao passar junto às pedras onde os meninos atiravam cobras mortas, Sinha Vitória lembrou-se da cachorra Baleia, chorou, mas estava invisível e ninguém percebeu o choro.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 65. ed. Rio de Janeiro: Record, 1994. p. 116.
O fragmento, inserido na obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, põe em foco a
I. repetição do primeiro capítulo da narrativa, por trazer novamente a fuga das personagens centrais, movida pelo flagelo da seca e pela fome, em busca de sustento e paradeiro.
II. saudade que a mulher do protagonista sente da cadela Baleia, considerada um membro da família, que teve de ser sacrificada pelas próprias mãos de Fabiano, por suspeita de hidrofobia.
III. figura de Sinha Vitória, que era admirada pelo marido, mas que nunca conseguia fixar o pensamento por muito tempo num só assunto, salvo em possuir uma cama com o lastro de couro, como a de Tomás da bolandeira.
IV. referência ao amo marcada por certo pesar, pois, de alguma forma, ele os ajudara, quando permitiu que ficassem morando na sua fazenda em troca dos serviços do vaqueiro, que não tinha raiva dele por suas trapaças, culpando só a sua sina ruim.
V. alusão aos meninos como uma forma de retratar o quanto admiravam o pai, considerado um herói pelos dois, razão de ambos desejarem seguir a profissão dele, principalmente por não terem a quem se apegar, uma vez que eram ignorados pela mãe.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a
I e IV.
II e V.
III e IV.
IV e V.
I, II e III.