MARIO CHAMIE (*1933 †2011)
Foi poeta (movimento Práxis), crítico literário e locutor (Rede Record). Formado em Direito pela USP. Foi secretário municipal de Cultura de SP e criou a Pinacoteca Municipal, o Museu da Cidade e o Centro Cultural São Paulo. Lecionou por mais de 30 anos na ESPM-SP.
FANTASMA
Um fantasma ausente
põe tijolo sobre
tijolo ao seu redor
Primeiro mede o terreno
Divide o espaço.
Calca com o pé
a planta
que não floresce.
Mas que cresce
sob estacas
de cimento.
Depois, a ausência
se preenche.
O fantasma move
a cal, a pedra, a pá.
O fantasma move
o corpo já presente
do lugar em que está.
Presente e ausente,
um fantasma se acasala
Move seu corpo
de carne e osso.
Come a própria argamassa
e se desfaz
no próprio fosso.
Tijolo sobre tijolo
um fantasma fez seu poço.
(MARIO CHAMIE, Espaço Inaugural, 1955)
Sobre o poema acima, assinale a afirmação ERRÔNEA:
a figura do fantasma-operário remete à ideia de um indivíduo despersonalizado, construindo algo que acaba sendo o próprio emparedamento.
sugere-se a humanização do fantasma na expressão “se acasala”, único momento em que ocorre um resgate existencial.
há referência à rudeza da vida ou às condições mínimas de vida decente, sobretudo quando o fantasma “come a própria argamassa”.
o paradoxo “Presente e ausente” traduz a ideia de “fantasma”, fantasma este que edifica um poço, alegoria do próprio buraco existencial.
a última estrofe sugere a ideia do trabalho como fonte consumidora e destruidora das energias humanas.