Mapa
Me colaram no tempo, me puseram uma alma viva e um corpo desconjuntado. Estou limitado ao norte pelos sentidos, ao sul pelo medo, a leste pelo Apóstolo São Paulo, a oeste pela minha educação.
(...)
Me puseram o rótulo de homem, vou rindo, vou andando, aos solavancos.
Danço. Rio e choro, estou aqui, estou ali, desarticulado, gosto de todos, não gosto de ninguém, batalho com os espíritos do ar, alguém da terra me faz sinais, não sei mais o que é o bem nem o mal.
Murilo Mendes. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
Com base no texto acima e nas questões por eles suscitadas, julgue o item.
Depreende-se da leitura do texto que a identidade assumida pelo eu lírico contrasta com a ideia de orientação convencionalmente atribuída à palavra mapa.
CERTO
ERRADO
Neste texto de Murilo Mendes, o eu lírico revela uma condição de desconexão, de ausência de um centro fixo ou de limites claros: seus referenciais de norte, sul, leste e oeste são convertidos em experiências subjetivas (sentidos, medo, educação, etc.). Diferentemente de um mapa convencional, que ordena o espaço com direções definidas, o eu lírico assume uma postura em que a identidade encontra-se em constante transformação. Essa falta de coordenadas fixas contrasta com a orientação tradicional de um mapa, ressaltando que a "identidade" ali presente é mais fluida e subjetiva. Por isso, a afirmativa de que há um contraste entre a identidade e a orientação convencionalmente atribuída a um mapa é verdadeira.
Poesia lírica e eu lírico: A poesia lírica caracteriza-se pela voz que se manifesta no texto, conhecida como eu lírico ou sujeito poético. Seu foco costuma estar nas experiências internas, sentimentos e reflexões do poeta.
Mapas e orientação: Um mapa é um sistema de representação do espaço que implica coordenadas fixas, como pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste). Esses pontos fornecem estrutura e orientação para a navegação no mundo físico.
Contraste entre literal e simbólico: Quando um texto fala sobre “mapa” de maneira não literal, pode desconstruir suas funções de fixação de coordenadas, enfatizando o aspecto subjetivo e incerto do eu lírico diante de um “mundo” interior.