Madama Carlota havia acertado tudo. (...) Até para atravessar a rua ela era outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentira tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma, isso significava uma perda que valia por um ganho. Assim como havia sentença de morte, a cartomante lhe decretara sentença de vida. Tudo de repente era muito e muito e tão amplo que ela sentiu vontade de chorar. Mas não chorou: seus olhos faiscavam como o sol que morria. Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora, é já, chegou minha vez! E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a (...).
LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. São Paulo: Rocco, 1977.
Assinale o item que NÃO corresponde ao trecho da obra A Hora da Estrela de Clarice Lispector.
A livre associação de imagens caracteriza o fluxo de consciência do narrador.
Como no famoso conto de José de Alencar, A Cartomante, Clarice o intertextualiza em A Hora da Estrela.
O título da obra evoca o sonho de Macabéa de se tornar estrela, o que, de forma cruel, ela acaba conseguindo, pois o veículo que a atropelou é importado e tem uma estrela como símbolo.
Embora a história de Macabéa seja profundamente dramática, a narrativa é toda permeada de muito humor e ironia.
A linguagem narrativa de Clarice é, às vezes, intensamente lírica, apresentando muitas figuras de estilo.