Liberdade não é um conceito entendido de forma única: tem significados diversos, apropriados também de formas particulares pelos diversos segmentos da sociedade. Para um representante da classe dominante venezuelana, Simón Bolívar, liberdade era sinônimo de rompimento com a Espanha, para a criação de nações livres. Mas, principalmente, nações livres para produzir, única possibilidade, segundo essa visão, do desabrochar do Novo Mundo.
Já para Dessalines, o líder da revolução escrava do Haiti (...), a liberdade, antes de tudo, representava o fim da escravidão, mas também carregava um conteúdo radical de ódio aos opressores franceses.
Para outros dominados e oprimidos, como os índios mexicanos, a liberdade passava distante da Espanha e muito próximo da questão da terra. Na década de 1810, os líderes da rebelião camponesa mexicana clamavam por terra para os deserdados.
(Maria Lígia Prado, A formação das nações latino-americanas)
O texto discute os diversos significados de liberdade no contexto das guerras de independência da América Latina. Pode-se concluir, a partir dele, que
a despeito da mistura de raças operada no continente, a questão racial foi praticamente irrelevante no processo de libertação das colônias.
tanto a população desfavorecida do México quanto as elites da Venezuela se preocupavam com a produção agrícola dos novos países.
a elite branca uniu-se aos negros escravos e aos descendentes dos antigos povos que ocupavam a América na luta pela independência.
em que pesem as peculiaridades de cada situação, a Espanha era o inimigo primordial contra quem os rebeldes deveriam unir suas forças.
apesar de a luta, em todos os casos, ter como objetivo a liberdade, havia diferenças significativas no projeto de nação a ser criada.