Leia um trecho do romance Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, para responder às questões 09 e 10.
Teresa pedira a Simão Botelho que aceitasse dez anos de cadeia e esperasse aí a sua redenção por ela.
“Dez anos! — dizia-lhe a enclausurada de Monchique. — Em dez anos terá morrido meu pai e eu serei tua esposa, e irei pedir ao rei que te perdoe, se não tiveres cumprido a sentença. Se vais ao degredo, para sempre te perdi, Simão, porque morrerás, ou não acharás memória de mim, quando voltares.”
Como a pobre se iludia nas horas em que as débeis forças de vida se lhe concentravam no coração!
As ânsias, a lividez, o deperecimento tinham voltado. O sangue, que criara novo, já lhe saía em golfadas com a tosse.
Se por amor ou piedade o condenado aceitasse os ferrolhos três mil seiscentas e cinquenta vezes corridos sobre as suas longas noites solitárias, nem assim Teresa susteria a pedra sepulcral que a vergara de hora a hora.
“Não esperes nada, mártir — escrevia-lhe ele. — A luta com a desgraça é inútil, e eu não posso já lutar. Foi um atroz engano o nosso encontro. Não temos nada neste mundo. Caminhemos ao encontro da morte... Há um segredo que só no sepulcro se sabe. Ver-nos-emos?
Não me peças que aceite dez anos de prisão. Tu não sabes o que é a liberdade cativa dez anos! Não compreendes a tortura dos meus vinte meses. A única voz que tenho ouvido é a da mulher piedosa que me esmola o pão de cada dia, e a do aguazil que veio dar-me a sarcástica boa nova de uma graça real, que me comuta o morrer instantâneo da forca pelas agonias de dez anos de cárcere.”
As palavras únicas de Teresa, em resposta àquela carta, significativa da turbação do infeliz, foram estas:
“Morrerei, Simão, morrerei. Perdoa tu ao meu destino... Perdi-te... Bem sabes que sorte eu queria dar-te... e morro, porque não posso, nem poderei jamais resgatar-te. Se podes, vive; não te peço que morras, Simão; quero que vivas para me chorares. Consolar-te-á o meu espírito... Estou tranquila... Vejo a aurora da paz... Adeus até ao céu, Simão”.
(Camilo Castelo Branco. Amor de perdição, 1994. Adaptado.)
Com a passagem “Se por amor ou piedade o condenado aceitasse os ferrolhos três mil seiscentas e cinquenta vezes corridos sobre as suas longas noites solitárias, nem assim Teresa susteria a pedra sepulcral que a vergara de hora a hora” (5º parágrafo), entende-se que
a morte de Teresa estava condicionada à aceitação da condenação por parte de Simão, por amor ou por piedade.
Teresa não seria salva da morte, independentemente da motivação de Simão para aceitar ou não a condenação.
os motivos que levariam Simão a aceitar a condenação impediriam a morte do casal.
a verdade é que Simão hesitava se conseguiria salvar Teresa da morte, fosse por amor, fosse por piedade.
Simão tinha esperança de impedir a morte de Teresa, por amor ou por piedade.