Leia um trecho de abertura escrito por Conceição Evaristo, em Histórias de leves enganos e parecenças:
Do que eu ouvi colhi essas histórias. Nada perguntei. Uma intervenção fora de hora pode ameaçar a naturalidade do fluxo da voz de quem conta. Acato as histórias que me contam. Do meu ouvir, deixo só a gratidão e evito a instalação de qualquer suspeita. Assim caminho por entre vozes. Muitas vezes ouço falas de quem não vejo nem o corpo. Nada me surpreende do invisível que colho. Sei que a vida não pode ser vista só a olho nu. De muitas histórias já sei, pois vieram das entranhas do meu povo. O que está guardado na minha gente, em mim dorme um leve sono. E basta apenas um breve estalar de dedos, para as incontidas águas da memória jorrarem os dias de ontem sobre os dias de hoje. Nesses momentos, em voz pequena, antes de escrever, repito intimamente as passagens que já sei desde sempre. Hão de me perguntar: por que ouço então as outras vozes, se já sei. Ouço pelo prazer da confirmação. Ouço pela partição da experiência de quem conta comigo e comigo conta. Outro dia me indagaram sobre a verdade das histórias que registro. Digo isto apenas: escrevo o que a vida me fala, o que capto de muitas vivências. Escrevivências. Ah, digo mais. Cada qual crê em seus próprios mistérios. Sei que a vida está para além do que pode ser visto, dito ou escrito. A razão pode profanar o enigma e não conseguir esgotar o profundo sentido da parábola.
(EVARISTO, 2017, p. 17)
Tendo como referência a leitura da obra e as palavras da autora, todas as alternativas são corretas, EXCETO
No conto “A moça do vestido amarelo”, o sincretismo religioso aparece como alegoria do inesperado cumprimento feito pela protagonista Dóris.
O conto “Teias de aranha” traz elementos idealizados da infância, marcada, sobretudo, pela ternura entre irmãos.
A profecia manifestada nos cabelos de Halima, em “Fios de ouro”, sugere a resistência das tradições negras.
Em “Mansões e puxadinhos”, desenvolvem-se elementos críticos envolvendo as tensões entre classes sociais.