Leia os versos abaixo de Manuel Bandeira:
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cossenos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Assinale a alternativa incorreta sobre a análise de Poética:
O poeta nega a poesia bem comportada, preocupada com o emprego da palavra, verificando no dicionário o seu uso correto.
Bandeira quer muito mais o lirismo dos loucos, dos bêbados, dos clowns de Shakespeare, pois implica a pregação de um lirismo com censuras e repressões.
Quando o poeta diz: “Abaixo os puristas” e “Estou farto do lirismo namorador ”, está se referindo, respectivamente, ao Parnasianismo e ao Romantismo.
Há uma proposta de ruptura com o passado através de afirmações libertárias, típicas do Modernismo: “Não quero mais saber do lirismo que não é libertação”.
Pode-se dizer que esse poema é um manifesto modernista pois, através de um estudo de metalinguagem, prega como deve ser a poesia moderna.