Leia os textos a seguir.
Caiu da escada
e foi para o andar de cima
MYRTES, Adrienne. Sem título. In.: FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004, p. 02.
Uma vida inteira pela frente.
O tiro veio por trás.
MOSCOVICH, Cíntia. Sem título. In.: FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004, p. 16
Não podendo eliminar
o resto da humanidade,
suicidou-se.
MATTOSO, Glauco. O eutanazista. In.: FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004, p. 02.
Diz-se com frequência que a linguagem contemporânea é dinâmica, rápida. Com o uso constante de mídias digitais, principalmente por meio dos aparelhos celulares, nos comunicamos com maior frequência por meio de mensagens rápidas, curtas. Algumas redes sociais, como o Twitter, exploram essa característica e limitam o usuário a postagens de até 140 caracteres.
Em 2004, o escritor Marcelino Freire desafiou ficcionistas e poetas a criarem histórias inéditas, fazendo uso de até cinquenta letras (sem contar título e pontuação). Com base nos três textos acima, retirados da obra intitulada Os cem menores contos brasileiros do século, é possível afirmar que, no que tange ao leitor, os microcontos exigem:
o acompanhamento de um texto complementar, necessariamente, pois carecem de contexto de significação.
ser lidos como poesia, na medida em que são apresentados em verso, o que caracteriza distintivamente o gênero lírico.
o distanciamento do leitor, uma vez que os textos trazem todas as informações necessárias à interpretação explicitamente.
a identificação do título, como acontece no microconto de Glauco Mattoso, não sendo possível interpretar os demais.
a participação ativa do leitor, uma vez que os textos dependem das pressuposições ou relações que o leitor faz para preencher informações que não são dadas explicitamente.