Leia os seguintes excertos do poema “O inútil luar”, do livro A cinza das horas, de Manuel Bandeira.
É noite. A Lua, ardente e terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia...
Dormem as sombras na alameda
Ao longo do ermo Piabanha.
E dele um ruído vem de seda
Que se amarfanha...
No largo, sob os jambolanos,
Procuro a sombra embalsamada.
(Noite, consolo dos humanos!
Sombra sagrada!)
(...)
Adiante uma senhora magra,
Em ampla charpa que a modela,
Lembra uma estátua de Tanagra.
E, junto dela,
Outra a entretém, a conversar:
- "Mamãe não avisou se vinha.
Se ela vier, mando matar
Uma galinha."
E embalde a Lua, ardente e terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia...
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 9. 2d. Rio de Janeiro: José Olympo, 1982.)
Com base nessa leitura, é CORRETO afirmar que
Manuel Bandeira, mesmo modernista, nunca abandonou de todo os poemas com metro e rima, como o demonstra esse poema, composto com versos de oito e quatro sílabas métricas.
não obstante ser um dos grandes nomes que participaram da Semana de Arte Moderna, o tema da melancolia nunca abandonou de todo a poesia do autor de A cinza das horas.
Manuel Bandeira é conhecido como o “São João Batista” do modernismo brasileiro: ou seja, anunciou a modernidade nas letras brasileiras embora não tenha participado efetivamente dela.
representante do modernismo, Manuel Bandeira ainda ostenta traços do parnasianismo e do simbolismo, como é perfeitamente visível nesse poema de seu último livro, A cinza das horas.
esse poema, típico da fase pré-modernista de Bandeira, exemplifica a influência do simbolismo tardio, tanto no tom melancólico quanto na temática cotidiana.