Leia os poemas a seguir.
Ah se não houvesse a poesia,
se não houvesse a poesia, não haveria água,
nem madeira, nem caminho, nem céu, nem corpo
atraindo outro corpo. Ah, se não houvesse a poesia
eu simplesmente não seria um zé garcia atravessado
na garganta de deus e do diabo, eu não seria um zé,
um Zé Garcia Chuva de Manga, não um camarada
atravessado de nuvens e de tantas mulheres felizes,
eu não seria, engraçada, uma tempestade muda.
GARCIA, José Godoy. Poesias. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 25.
UM CADÁVER DE POETA
II
[...]
A poesia é de certo uma loucura;
Sêneca o disse, um homem de renome.
É um defeito no cérebro... Que doidos!
É um grande favor, é muita esmola
Dizer-lhes bravo! à inspiração divina...
E, quando tremem de miséria e fome,
Dar-lhes um leito no hospital dos loucos...
Quando é gelada a fronte sonhadora
Por que há de o vivo que despreza rimas
Cansar os braços arrastando um morto,
Ou pagar os salários do coveiro?
A bolsa esvaziar por um misérrimo,
Quando a emprega melhor em lodo e vício!
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 127.
Os poemas transcritos tratam do mesmo tema, o fazer poético, mas apresentam diferentes concepções a respeito dessa temática. Tal diferença se expressa na contraposição entre as ideias de que a poesia é
produto da observação da natureza, no primeiro poema; e fruto da inspiração divina, no segundo.
decorrente dos temas explorados pelo poeta, no primeiro poema; e resultado da insanidade de quem a produz, no segundo.
inspirada nos sentimentos amorosos, no primeiro poema; e responsável pelas dores vividas pelo poeta, no segundo.
forma de conhecimento para o poeta, no primeiro poema; e motivo de sofrimento para quem a cria, no segundo.
gênese da criação, no primeiro poema; e resultado de distúrbios emocionais do poeta, no segundo.