Leia o trecho do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos.
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.
Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
– Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.
Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
– Anda, excomungado.
(Vidas secas, 2001.)
É correto afirmar sobre o cenário e sobre os personagens de Vidas secas:
Os personagens vivem com tranquilidade, o que os diferencia dos animais, que são castigados pelo clima.
Há uma forte oposição entre a intensidade vital dos personagens e a esterilidade da paisagem da seca.
Por preguiça, os personagens têm dificuldade de sobreviver no ambiente fértil e acolhedor.
A paisagem da seca projeta-se sobre os personagens e determina, em grande parte, suas vidas, que podem ser chamadas de “secas”.
Os personagens sobrevivem com dificuldade, apesar da paisagem fértil, repleta de animais e vegetação.