Leia o trecho do ensaio “O direito à literatura”, de Antonio Candido, para responder a questão.
O assunto que me foi confiado nesta série é aparentemente meio desligado dos problemas reais: “Direitos humanos e literatura”.
Por quê? Porque pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo. Esta me parece a essência do problema.
Nesse ponto as pessoas são frequentemente vítimas de uma curiosa obnubilação1 . Elas afirmam que o próximo tem direito, sem dúvida, a certos bens fundamentais, como casa, comida, instrução, saúde, coisas que ninguém bem formado admite hoje em dia que sejam privilégio de minorias, como são no Brasil. Mas será que pensam que o seu semelhante pobre teria direito a ler Dostoiévski ou ouvir os quartetos de Beethoven? Apesar das boas intenções no outro setor, talvez isto não lhes passe pela cabeça. E não por mal, mas somente porque quando arrolam os seus direitos não estendem todos eles ao seu semelhante. Ora, o esforço para incluir o semelhante no mesmo elenco de bens que reivindicamos está na base da reflexão sobre os direitos humanos.
Certos bens são obviamente indispensáveis, como o alimento, a casa, a roupa. O fato é que cada época e cada cultura fixam os critérios de indispensabilidade, que estão ligados à divisão da sociedade em classes, pois inclusive a educação pode ser instrumento para convencer as pessoas de que o que é indispensável para uma camada social não o é para outra.
(Vários escritos, 2011. Adaptado.)
obnubilação: obscurecimento das sensações ou do pensamento.
No trecho “Ora, o esforço para incluir o semelhante no mesmo elenco de bens que reivindicamos está na base da reflexão sobre os direitos humanos.” (3º parágrafo), o termo destacado pode ser substituído por
porém.
porque.
ademais.
apesar.
mas.