Leia o trecho do conto “Os desastres de Sofia”, de Clarice Lispector.
Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão, e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele.
O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:
– Cale-se ou expulso a senhora da sala.
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser o objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos.
(A legião estrangeira, 1999.)
Nesse trecho, a narradora
relata situações de sala de aula que tornam evidente sua relação conflituosa com um professor do curso primário.
expressa sua mágoa pelo fato de, embora tratasse o professor com agressividade, ele reagir com indiferença às provocações.
recorda a convivência desastrosa com um professor, que a humilhava e a ameaçava sem qualquer justificativa.
lembra com saudade o período em que se sentiu atraída por um professor, um homem que despertava atenção pela postura e pela elegância.
rememora de forma distante episódios da infância, quando se divertia ofendendo professores e professoras.