FAI 2015/2
Leia o trecho do capítulo CXLIV de Memórias póstumas de Brás Cubas, romance de Machado de Assis, para responder à questão.
Depois do almoço fui à casa de D. Plácida; achei um molho de ossos, envolto em molambos, estendido sobre um catre velho e nauseabundo; dei-lhe algum dinheiro. No dia seguinte fi-la transportar para a Misericórdia, onde ela morreu uma semana depois. Minto: amanheceu morta; saiu da vida às escondidas, tal qual entrara. Outra vez perguntei, a mim mesmo, como no capítulo LXXV, se era para isto que o sacristão da Sé e a doceira trouxeram D. Plácida à luz, num momento de simpatia específica. Mas adverti logo que, se não fosse D. Plácida, talvez os meus amores com Virgília tivessem sido interrompidos, ou imediatamente quebrados, em plena efervescência; tal foi, portanto, a utilidade da vida de D. Plácida. Utilidade relativa, convenho; mas que diacho há absoluto nesse mundo?
(Memórias póstumas de Brás Cubas, 1998.)
No trecho apresentado, é possível perceber uma característica do estilo de Machado de Assis, recorrente em Memórias póstumas de Brás Cubas, que é
a oposição entre o espiritual e o carnal, expressando um conflito de ordem religiosa.
o discurso fantasioso, que se articula com a representação de aspectos do inconsciente.
a reflexão de cunho filosófico, refletindo uma compreensão de mundo realista.
o uso de uma variante linguística regional e popular, o que explicita a valorização da literatura oral.
a idealização da morte, evidenciando a filiação do autor à estética romântica.
E mais: nota TRI a todo o momento.
