Leia o trecho de Os sertões, de Euclides da Cunha, para responder à questão.
[...] os umbuzeiros alevantam dous1 metros sobre o chão, irradiantes em círculo, os galhos numerosos.
É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das rápidas horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros. Representa o mais frisante exemplo de adaptação da flora sertaneja. Foi, talvez, de talhe mais vigoroso e alto — e veio descaindo2, pouco a pouco, [...] modificando-se à feição do meio, desinvoluindo, até se preparar para a resistência e reagindo, por fim, desafiando as secas duradouras, sustentando-se nas quadras miseráveis mercê da3 energia vital que economiza nas estações benéficas, das reservas guardadas em grande cópia4 nas raízes.
E reparte-as com o homem. [...]
Alimenta-o e mitiga5-lhe a sede. Abre-lhe o seio acariciador e amigo, onde os ramos recurvos e entrelaçados parecem de propósito feitos para a armação das redes bamboantes6. E ao chegarem os tempos felizes dá-lhe os frutos de sabor esquisito para o preparo da umbuzada tradicional.
(Os sertões, 2003. Adaptado.)
1 dous: dois.
2 descair: tomar uma posição arqueada, curvar-se, vergar-se.
3 mercê da: graças à.
4 cópia: abundância, quantidade.
5 mitigar: aliviar.
6 bamboante: que balança.
Ao apresentar o umbuzeiro como “exemplo de adaptação da flora sertaneja”, o autor dá destaque
à maneira como a árvore foi se tornando mais resistente ao clima seco à medida que ganhava em altura e espessura.
ao modo como basta haver luz solar em abundância para que a árvore se expanda com facilidade.
à astúcia do sertanejo, que substituiu as árvores nativas por uma espécie mais resistente e de fácil plantio.
ao fato de que as árvores do sertão vivem mais quando estão unidas, formando uma mata fechada.
à estratégia adotada pela árvore de poupar energia em épocas mais amenas para ser usada no período de seca.