Leia o trecho de Marília de Dirceu, do poeta Tomás Antonio Gonzaga.
“Com os anos, Marília, o gosto falta,
E se entorpece o corpo já cansado:
Triste, o velho cordeiro está deitado,
E o leve filho, sempre alegre, salta.
A mesma formosura
É dote que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chega a longa idade.
Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias que vêm tarde, já vêm frias,
E pode, enfim, mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrado de roubar ao corpo as forças,
E ao semblante a graça!”
(RONCARI, Luiz. Literatura Brasileira – dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São Paulo: Edusp, 2014. p. 265-266)
Na poesia árcade, era comum que os poetas retomassem temas que foram cultivados pelos poetas da Antiguidade Clássica. Os lemas árcades consistem na composição de expressões que remetem aos ideais da valorização da simplicidade, aspecto importante dessa escola literária. Cada um dos temas carrega um tipo de filosofia de vida.
Qual é o tema que o eu lírico desenvolve no trecho lido?
Tempus fugit – fugacidade do tempo.
Locus amoenus – exaltação de lugares amenos, tendo como única preocupação a realização amorosa.
Fugere urbem – abandono da conturbada e artificial vida urbana.
Aurea mediocritas – viver com moderação, sem excessos, sem ambição.
Inutillia truncat – afastar-se de todo apego material.