UNIFAN Medicina 2017/1

Leia o trecho de Ana Terra para resolver a Questão.

 

    Ana sentia-se animada, com vontade de viver, sabia que por piores que fossem as coisas que estavam por vir, não podiam ser tão horríveis como as que já tinha sofrido. Esse pensamento dava-lhe uma grande coragem. E ali deitada no chão, a olhar para as estrelas, ela se sentia agora tomada por uma resignação que chegava quase a ser indiferença. Tinha dentro de si uma espécie de vazio: sabia que nunca mais teria vontade de rir nem de chorar. Queria viver, isso queria, e em grande parte por causa de Pedrinho, que afinal de contas não tinha pedido a ninguém para vir ao mundo. Mas queria viver também de raiva, de birra. A sorte andava sempre virada contra ela. Pois Ana estava agora decidida a contrariar o destino. Ficara louca de pesar no dia em que deixara Sorocaba para vir morar no Continente. Vezes sem conta tinha chorado de tristeza e de saudade naqueles cafundós. Vivia com o medo no coração, sem nenhuma esperança de dias melhores, sem a menor alegria, trabalhando como uma negra, e passando frio e desconforto... Tudo isso por quê? Porque era a sua sina. Mas uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem. Pode e deve. E agora ela tinha enterrado o pai e o irmão e ali estava, sem casa, sem amigos, sem ilusões, sem nada, mas teimando em viver. Sim, era pura teimosia. Chamava-se Ana Terra. Tinha herdado do pai o gênio de mula.

    Soergueu o busto, olhou as coxilhas em torno e avistou um fogo, muito longe, na direção do nascente.

    “Boitatá” – pensou. E lembrou-se imediatamente da noite de verão em que Pedro Missioneiro, acocorado na frente do rancho, lhes contara a história da teiniaguá. O fogo que ela via agora parecia uma estrela caída, graúda e amarelona. E como ela não se apagasse, Ana concluiu que devia ser o fogo dum acampamento. Soldados? Ao pensar nisso tornou a sentir o cheiro dos castelhanos, e a lembrança de homem lhe trouxe de novo uma sensação de repulsa e de ódio. Mas podia bem ser o acampamento dum carreteiro, e nesse caso a carreta podia passar por ali no dia seguinte. Ana Terra começou a sentir no corpo o calor duma esperança nova. Iam ver gente, talvez gente de bem, algum tropeiro continentino que vinha da vila do Rio Pardo... Tornou a deitar-se, mas continuou a olhar para o fogo. Pouco a pouco o sono começou a pesar-lhe nas pálpebras. Ana cerrou os olhos, dormiu e sonhou que andava numa carreta, muito devagar, e ia para Rio Pardo, cidade que ficava muito longe, e todo o tempo da viagem ela chorava, porque Pedrolucinho tinha ficado sepultado no alto duma coxilha: ela mesma o enterrara vivo, só porque o coitadinho não era bem branco; e por isso agora chorava, enquanto as rodas da carreta chiavam e o carreteiro gritava: Ooche, boi! Ooche, boi!

VERÍSSIMO, Érico. Ana Terra. Companhia das Letras: São Paulo, 2005. p. 70-71.

Érico Verísssimo divide O tempo e o vento em três partes: O continente, O retrato e O arquipélago. Ana Terra é parte integrante de O continente. Observada a contextualização estética, histórica e social brasileira em Ana Terra, é certo que:

 

1. é uma obra de cunho regionalista, com preponderância de linguagem, cultura e espaços rurais ou semiurbanos.

2. é uma das obras regionais que exalta a figura do heroi mítico – o índio brasileiro – resgastando o passado nacional de forma gloriosa e grandiloquente, assim como apresenta um tom ufanista.

3. enquadra-se na segunda fase do Modernismo brasileiro e, entre seus principais expoentes, estão também Oswald de Andrade, José Lins do Rego e Jorge Amado.

4. há a presença de uma linguagem cotidiana, com aspectos que fazem menção ao folclore e culturas populares.

5. uma das principais características atinentes ao Regionalismo de 1930 – tendência na qual enquadra-se Ana Terra – é a exacerbação da exposição das mazelas brasileiras, de forma crítica, sob um prisma definido como compromissado.

6. a Segunda geração modernista, mais especificamente as obras regionais, evidenciam um deslocamento das produções literárias brasileiras para regiões mais afastadas do Sudeste brasileiro.

7. há uma ambientação para a discussão crítica dos fatos do presente, como ocorre também em Ubirajara, de José de Alencar.

8. Ana Terra é uma saga, tanto familiar, quanto histórica, já que recobre fatos históricos e sociais, tanto da história da família da personagem protagonista inicial, quanto da história do Rio Grande do sul e, consequentemente, do Brasil.

9. a paixão e envolvimento de Ana Terra com um índio missioneiro e o filho, fruto dessa união, que dá continuidade às próximas gerações, revela parte da identidade nacional.

10. pelas características da obra de cunho histórico e das agruras e sofrimentos vividos pelos personagens no povoamento do Estado do Rio Grande do Sul, a predominância do fator “tempo” é mais psicológico do que cronológico.

 

A soma dos números das declarações acima incorretas é:

a

33.

b

27.

c

26 .

d

24.

e

22.

Depoimentos
Por que os estudantes escolhem a aio
Tom
Formando em Medicina
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Sarah
Formanda em Medicina
Neste ano da minha aprovação, a AIO foi a forma perfeita de eu entender meus pontos fortes e fracos, melhorar minha estratégia de prova e, alcançar uma nota excepcional que me permitiu realizar meu objetivo na universidade dos meus sonhos. Só tenho a agradecer à AIO ... pois com certeza não conseguiria sozinha.
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